Mães de alunos da rede municipal de ensino de Valinhos e psicóloga especialista na questão reverberam as medidas tomadas
Por Bruno Marques
A prefeita Lucimara Godoy (PSD) anunciou em coletiva de imprensa, no último dia 14, medidas de segurança tomadas pelo Executivo para tentar tranquilizar a situação em relação ao clima de insegurança instaurado por ataques em escolas no país. Na ocasião, ela citou que embora não exista neste momento nenhum indício de ameaça concreta às escolas da cidade, foram tomadas algumas providências de segurança.
Entre elas, estão reforço no patrulhamento, monitoramento eletrônico através de câmeras de segurança, travas especiais que impedem a abertura das portas pelo lado de fora, botões de segurança SOS por aplicativo, reativação do programa PAE (Patrulheiro Amigo da Escola) e o recrutamento de 17 vigias para atuar com armas não letais de forma permanente nas escolas mais vulneráveis.
Mas, será que essas medidas resolvem o problema? Com este questionamento, o Jornal Terceira Visão conversou com mães de alunos da rede municipal de ensino de Valinhos e também com uma psicóloga.
Mães
“Meu filho tem 13 anos e estuda na Emeb Cecília Meireles. Lá já tem câmeras, mas não funcionam. E aí não adianta nada. Tudo que envolva a Secretaria de educação é feito pra falar que fez, pra inglês ver, e não funciona”, disse Tatiane Bruschi, que apoia e concorda com as medidas implementadas, desde que, segundo ela, funcione.
Raquel Lobo não acredita que as medidas solucionarão o problema: “O mundo está violento em todos os lugares, cabe ter várias medidas, inclusive a saúde mental, tanto dos alunos, como dos profissionais. É necessário ter profissionais psicológicos fazendo esse acompanhamento quando a escola identificar algum detalhe”. Seu filho tem 12 anos e estuda na Emeb Luiz Antoniazzi.
Vigiar e punir?
“A gente precisa entender que o problema por trás disso vem com um discurso de ódio. E ao destrinchar isso, vemos que é uma questão sistêmica e estrutural e que está enraizada social e culturalmente no nosso cotidiano. Há exemplos de apologia a ideologia extremista (nazismo). Enquanto a gente não entender que precisamos mudar nosso entendimento sobre essas questões, qualquer medida é paliativa porque não vai trazer uma real transformação. E medidas que não trazem a transformação da realidade não levam a lugar nenhum. Não se sustentam”, avaliou Laura Lorenzetti.
Ela é psicóloga, mestra e doutoranda em Psicologia como Ciência e Profissão. E, na sua visão, subir muros, colocar detectores de metais, fazer professores terem aulas de defesa pessoal, entre outras questões, são atos punitivos que não funcionam 100%. “São medidas de fiscalização que transformam a escola numa prisão. Contêm o pânico e a ansiedade da população, mas não mudam a questão de fato”.
Laura enfatizou que o que se precisa pensar é no investimento em políticas públicas como a inserção da psicologia escolar. “Devemos pensar na forma que a gente educa, se é uma educação libertadora, se vai trazer uma consciência crítica para a população, se respeita a diversidade e não naturaliza a violência, se acredita no fortalecimento da construção coletiva e não no individualismo. Todos esses valores são imprescindíveis para que a gente consiga ter uma sociedade que não vá propagar discurso de ódio e sim combatê-lo. E isso é uma responsabilidade coletiva”, argumentou.
Ela investiga o fenômeno em crianças e adolescentes, dentro da escola através da lente da Psicologia Crítica e da Psicologia Comunitária e concluiu: “Este é o período que mais está acontecendo ataques em escolas e isso não está desvinculado de todo o movimento político de ideologias extremas e discurso de ódio que vivemos nos últimos anos e ainda vivemos. Como eles vivenciam essas questões? Estamos ouvindo o que os alunos têm a dizer? Precisamos do serviço social e da psicologia dentro das escolas. As famílias não têm orientação dos seus direitos”.
Laura Lorenzetti atua no programa ECOAR: @ecoarpsinaescola e no grupo de pesquisa: @gepinpsi. Enfim, o que diria Michel Foucault sobre esta “segurança” nas escolas?