Findas as polêmicas sobre maçã na maionese e uva passa em todo lugar, as mesas das famílias brasileiras com jovens no Ensino Médio voltam a discutir sobre o vestibular. Chegou a hora de provas de segunda fase para alguns e de resultado final para outros. Vem à tona, então, todo tipo de comentário, exposição e relato nas mídias.
Um que nunca me saiu da memória foi quando, nos idos de 2013, todos os portais de notícia só falavam sobre a tal receita de miojo encontrada entre as redações do ENEM. Para quem não lembra: um participante rebelde (e criativo?) reproduziu uma receita de miojo em sua folha de respostas ao invés de dissertar sobre a temática solicitada. Foi anulado, é claro, já que consta nas instruções específicas da prova que o texto receberá nota zero caso tenha um trecho sem relação alguma com a temática.
Você deve se lembrar de algum outro caso do tipo. Afinal, não são raros. Quem já esteve em sala de aula ou já trabalhou em avaliações de larga escala – como concursos, provas nacionais ou vestibulares – sabe bem que o maior componente desses materiais é o inesperado. Letra de música, desenho, xingamento, recadinhos carinhosos (ou não) aos corretores, trecho da Bíblia e até mesmo palavrões que nem Dercy Gonçalves conhecia… É uma lista infinita.
Tais acontecimentos viram notícia por uma razão que não está ligada à quantidade de casos, apesar da recorrência, mas o componente esdrúxulo, pitoresco, bizarro. O que me captura nisso é, no entanto, o porquê. Desinformação? Poucos lêem os manuais do candidato, eu sei, mas não imaginar que haja punição para isso ainda não me entra na cabeça. Rebeldia? A que custo? Uma prova hoje pode chegar a 200 reais apenas para realizar a inscrição. Eu votaria em displicência, o mais puro “não me importo” vindo de um adolescente desafiador, seja pela falta de perspectiva de vida ou pelo excesso, que o faz não depender daquele papel.
Enquanto não descobrimos, seguimos rindo das tais “pérolas”.