Em todo o mundo, mais de 70 milhões de pessoas convivem com o TEA (Transtorno do Espectro Autista), segundo projeções da ONU (Organização das Nações Unidas). A estimativa é que uma em cada 50 crianças tenha autismo, conforme informações divulgadas pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos. No Brasil, esse número pode chegar a 2 milhões.
Autismo é um transtorno do desenvolvimento que afeta a capacidade de uma pessoa para se comunicar, interagir socialmente, desenvolver interesses e comportamentos restritivos. As principais dificuldades dos autistas incluem a dificuldade de estabelecer e manter relações sociais, comportamentos repetitivos, dificuldade em se comunicar e uma tendência a ter aversão a mudanças.
Outras características típicas incluem dificuldade em lidar com a frustração, comportamento obsessivo-compulsivo, dificuldade em lidar com o estresse, hiperatividade e problemas de atenção. E, além de todos esses desafios, os autistas e seus familiares também têm que lidar com um problema que, por vezes, é desconhecido por muitos: o mascaramento. É o que afirma a Dra. Jessica Cavalcante, especialista em neurodesenvolvimento e diretora do Instituto Neuro – plataforma de cursos voltados ao tema.
Jessica Cavalcante explica que o mascaramento, camuflagem ou compensação autista, é uma supressão consciente ou inconsciente das respostas autistas naturais. “No mascaramento, o autista está escondendo ou controlando comportamentos associados ao TEA que podem ser vistos como inapropriados em situações”, explica.
A especialista em neurodesenvolvimento destaca que autistas podem sentir necessidade de apresentar ou realizar comportamentos sociais considerados neurotípicos, ou mesmo ocultar comportamentos neurodiversos, com o objetivo de serem aceitos e se encaixarem.
“O mascaramento pode contribuir para o esgotamento autista, que ocorre quando os desafios da vida excedem os recursos de uma pessoa. Além disso, pode levar a sérios problemas de saúde física e mental, como depressão e ansiedade”, alerta.
Quais são os sinais de mascaramento autista?
Nas palavras de Cavalcante, o mascaramento é uma estratégia de sobrevivência social e, portanto, parecerá diferente dependendo do indivíduo. Apesar disso, ele destaca as principais características do problema nos tópicos a seguir:
- Forçar ou fingir contato visual durante as conversas;
- Imitar sorrisos e outras expressões faciais;
- Imitar gestos;
- Esconder ou minimizar interesses pessoais;
- Desenvolver um repertório de respostas ensaiadas para perguntas;
- Conversas “de script”;
- Desconforto sensorial intenso, incluindo ruídos altos;
- Disfarçar comportamentos estimulantes: (esconder um pé que balança ou trocar um movimento preferido por um menos óbvio).
Por que alguém mascara?
De acordo com a diretora do Instituto Neuro, a motivação para uma pessoa com TEA mascarar pode acontecer por vários motivos, como:
- Querer se misturar e não se destacar da multidão;
- Para obter um emprego, atender às qualificações profissionais ou melhorar as oportunidades de trabalho;
- Preocupações sobre segurança pessoal e bem-estar, como bullying, ataques verbais ou emocionais, agressão e intimidação;
- Para aumentar as conexões e relacionamentos com os outros;
- Diminuir o risco de fracasso em situações sociais usando técnicas estruturadas, a fim de reduzir a incerteza e aumentar a confiança na capacidade de socializar;
- Para evitar discriminação e respostas negativas de outras pessoas.
“A melhor coisa que podemos fazer é nos educar sobre o autismo para aumentar a nossa compreensão e aceitação das pessoas que são neurodiversas”, afirma. “Ninguém deveria ter que mudar quem é para agradar a outra pessoa ou grupo. Além do mais, os empregadores precisam aprender mais sobre o autismo no local de trabalho”, complementa.
Quais são os efeitos negativos do mascaramento?
Para concluir, Cavalcante chama a atenção para o fato de que o mascaramento regular pode representar um impacto profundo no bem-estar de uma pessoa. Alguns dos efeitos negativos da questão são:
- Exaustão e fadiga, isso porque mascarar exige muito esforço;
- Mudança na autopercepção ou identidade própria (não se sentir como o verdadeiro eu, se sentir como uma “falsa” identidade);
- Aumento do estresse e ansiedade;
- Depressão;
- Esgotamento autista;
- Diagnóstico de autismo tardio ou incorreto;
- Aumento do risco de experimentar pertencimento frustrado ao longo da vida.
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