Brasil aparece em destaque de baixa cobertura vacinal

Na Semana Mundial de Imunização, que acontece entre os dias 24 e 30 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta dados e estratégias para restaurar a cobertura vacinal no mundo, especialmente em números sobre as crianças e adolescentes durante e no pós-pandemia. Segundo informações divulgadas pelo órgão, em 20 países 75% das crianças ficaram sem vacinas em 2021. Entre esses países está o Brasil, único país da América do Sul a figurar na lista. A constatação também preocupa pelo aparecimento de um caso de poliomielite aguda no Peru, no fim de março deste ano, e que coloca o Brasil – por fazer fronteira com o país – em estado de alerta.

A baixa cobertura vacinal em todo o território nacional é um risco à saúde principalmente para pessoas com condições crônicas não transmissíveis (CCNTs), como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, já que 88,9% das mortes por Influenza, a conhecida gripe, acometem pessoas com condições pré-existentes. E não apenas a imunização contra a Influenza está baixa, outras 20 vacinas também não atingiram a meta no Brasil.

Além das vacinas já consagradas, novas vacinas têm chegado ao Brasil. O Dr. Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que essas novas vacinas, como a nova contra a dengue e a de influenza quadrivalente de alta dose, ainda precisarão de mais análises para serem incorporada ao SUS. Ao mesmo tempo, revela que “é uma prioridade a produção da vacina quadrivalente contra influenza, pelo Butantã, para substituição da vacina trivalente”. De acordo com o especialista, outra prioridade deve ser a disponibilização da vacina contra a Herpes zoster no SUS. A Dra. Margareth Dalcolmo, Presidenta da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e Embaixadora do Movimento Nacional pela Vacinação, complementa que é fundamental recuperar a cobertura para vírus da influenza, ainda mais quando pensamos em pessoas com doenças respiratórias crônicas, como asma.

Outra importante cobertura vacinal é contra o HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), causador de câncer de colo do útero, vagina, pênis e ânus. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) de 2019, com uma amostra composta por 160.721 estudantes de escolas públicas e privadas, com idade entre 13 e 17 anos, o número de imunizações está abaixo do esperado. No Brasil, 62,9% dos escolares referiram que foram vacinados contra o HPV, sendo 76,1% entre as meninas e 49,1% entre os meninos. Grande parte dos não vacinados afirmaram que o principal motivo é não saber que precisava ser imunizado, sendo Alagoas o estado mais afetado com 65,12%, e Santa Catarina o estado menos afetado com 32,03%. Nas escolas públicas, o principal motivo entre os não vacinados é a distância e/ou dificuldade para ir até a unidade de serviço, enquanto nas escolas privadas, a mãe, o pai ou responsável proibiram seus filhos de serem vacinados.

E com a força-tarefa totalmente voltada na Semana Mundial de Vacinação, o Dr. Nésio Fernandes, Secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, define ser primordial que os imunizantes cheguem a todas as crianças e jovens. Para o especialista, as dificuldades em atingir números satisfatórios na cobertura vacinal passam por problemas como a complexidade do calendário de vacinação, o baixo alcance das campanhas, a burocratização no acesso, a fragilidade nos sistemas de informação, profissionais desmotivados e teses antivacinas. Algumas soluções propostas, e que entram na pauta do Ministério da Saúde, envolvem o registro de forma simplificada; a integração dos sistemas de informação com a rede privada; o estímulo do uso de plataformas de agendamento online; e a expansão e qualificação de 70 mil equipes pelo Brasil na Estratégia Saúde da Família (ESF).

A recuperação da cobertura vacinal no país também é pauta para o Dr. Eder Gatti, Diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, que afirma ter variação muito grande no estoque de vacinas. “Precisamos trabalhar algumas questões estruturais do Programa Nacional de Imunizações, já que o cenário é discrepante. Há sobras de vacinas monovalentes, mas faltam vacinas orais contra poliomielite, tríplice viral limítrofe, assim como hepatite B. A partir disso precisamos elaborar estratégias a fim de cobrir essas coberturas vacinais”, ressalta o diretor.

Para o Dr. Mark Barone, Coordenador Geral do FórumDCNTs, “só conseguiremos superar o desafio da baixa cobertura, hoje muito associada à hesitação vacinal, com um forte trabalho intersetorial envolvendo setor público, sociedade médica, sociedade civil, academia e o setor privado”. De acordo com o especialista, “saúde, educação e comunicação devem caminhar de mãos dadas nesse movimento”. E alerta que “a baixa cobertura vacinal é ainda mais acentuada em relação às vacinas disponibilizadas gratuitamente nos CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais) para proteção adicional a pessoas com diabetes, câncer, asma grave, HIV, entre outras condições”.

Mais informações estão disponíveis em www.ForumDCNTs.org.

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