Artista de Vinhedo transforma barro em arte e resistência

Por Vitor Paderes

Com mais de 17 anos dedicados à cerâmica em Vinhedo, o artista e educador Rogério Antônio Carvalho Silva, de 63 anos, encontrou na argila não apenas um meio de expressão, mas um elo ancestral. “Meu envolvimento com a cerâmica começou de forma muito intuitiva. A argila me chamou antes mesmo que eu entendesse o motivo”, revela. Desde então, o barro se tornou centro da sua vida e obra — uma jornada marcada por simbolismo, coletividade e resistência cultural.

O artista destaca que a cerâmica vai além da estética: “É o encontro entre os quatro elementos — terra, água, ar e fogo. Modelar a argila é um ato de transformação e de entrega”. Em seu ateliê e também no Centro Cultural de Vinhedo, ele compartilha esse saber com alunos de várias gerações, ensinando técnicas como modelagem manual, torno elétrico, formulação de esmaltes e práticas pré-hispânicas. “Busco integrar as marcas do tempo, as texturas e a essência da terra às minhas peças”, explica.

Um dos marcos em sua trajetória foi o projeto Barro Calchaquí, na Argentina, que reuniu 30 ceramistas latino-americanos. “Foi um trabalho coletivo que me marcou profundamente. Cada artista trouxe sua visão, mas a união em torno do barro foi o verdadeiro destaque”, relembra. Essa vivência internacional também inspira seu engajamento na Associação de Ceramistas de Vinhedo (ACV), da qual é um dos articuladores.

A ACV, hoje com cerca de 80 ceramistas cadastrados, busca valorizar a cerâmica como linguagem artística e turística na cidade. “Queremos transformar Vinhedo em uma referência no Estado de São Paulo como rota da cerâmica. Quando fortalecemos os artistas, promovemos também a cultura local”, afirma. A associação já desenvolveu projetos como o Germina, a campanha Canecas que Acolhem e articula o futuro I Encontro de Ceramistas da América Latina — Edição Brasil.

Para o artista, o futuro da cerâmica é promissor: “Há um reencontro com o artesanal, com o feito à mão. A cerâmica está no centro dessa transformação, carregando alma, tempo e verdade”. E em Vinhedo, esse movimento ganha forma no barro moldado por mãos que resistem, ensinam e criam.

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