Uma história de superação que ecoa além das palavras
Por Marcia Duarte
Nos cantos tranquilos da cidade de Valinhos, uma história de determinação e superação se desdobra, personificada por Andréa Luísa Borin, uma terapeuta holística de 35 anos. Casada com Eric há mais de uma década e mãe dedicada de três filhos – Beatriz, de 11 anos, Luara, de 9 anos, e a pequena Paolla, com apenas 8 meses -, Andréa nos convida a conhecer sua jornada única e inspiradora. Sua vida mudou drasticamente quando, do dia para a noite, a audição lhe foi retirada. Hoje, ela se posiciona como um farol de conscientização sobre os desafios enfrentados pelas pessoas surdas, destacando a urgente necessidade de acessibilidade e empatia.
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O choque da perda repentina da audição foi acompanhado por momentos cruciais que destacam a falta de sensibilidade para com os desafios enfrentados por pessoas surdas. Uma situação particularmente angustiante aconteceu quando uma suspeita presença de um veículo na frente de sua casa levou Andréa a tentar acionar a segurança. Ela relembra: “Entrei com minhas três filhas em casa, e logo que a mãe da amiga saiu, um carro diferente se aproximou. Voltei ao portão e olhei pela fresta. Percebi que não era o mesmo carro e dei sinal para minhas filhas entrarem correndo em casa. Pensei em pedir ajuda à guarda, mas como elas ligariam, seria considerado trote por ser criança ligando. E se eu ligasse, eu não ouviria a resposta. Foi uma situação desesperadora”.
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Essa experiência revela uma lacuna importante em termos de segurança pública. Para muitas pessoas surdas, a comunicação por telefone é inviável, o que dificulta o pedido de ajuda em situações de emergência. A falta de uma alternativa acessível para acionar a segurança pública pode colocar em risco aqueles que enfrentam desafios de audição. É crucial que medidas sejam adotadas para oferecer meios alternativos de comunicação, como botões de pânico ou aplicativos de mensagens, para garantir que todos possam solicitar assistência quando necessário.
Surda oralizada, como Andréa se autodefine, refere-se a pessoas que perderam a audição e aprenderam a se comunicar predominantemente através da fala e da leitura labial. Elas podem usar a linguagem oral como principal forma de comunicação, mas ainda podem enfrentar dificuldades significativas, especialmente em situações em que a leitura labial não é possível ou em ambientes ruidosos.
Além das dificuldades em sua vida cotidiana, Andréa também enfrentou desafios em consultas médicas para suas filhas. Ela relembra com frustração: “Teve uma vez na Upinha, cheguei com as 3, com tudo escrito, inclusive ‘SOU SURDA ORALIZADA’ em letras grandes. Entreguei o papel com tudo escrito para a triagem, mas, na consulta, a médica veio falar oralmente comigo, ainda usando máscara. Fiquei perdida e tive que pedir para repetir. Falta muita empatia das pessoas, vontade de tentar se comunicar e principalmente intérpretes nos serviços públicos”.
Andréa compartilha seu desânimo quanto à falta de empatia e de esforços para facilitar a comunicação entre profissionais de saúde e pessoas surdas. Ela destaca a necessidade de profissionais médicos terem conhecimento sobre Libras ou usarem meios alternativos de comunicação para garantir que as necessidades dos pacientes sejam atendidas de forma eficaz.
Em meio a esses desafios, Andréa encontrou forças para enfrentar as barreiras da surdez. Ela desenvolveu habilidades de leitura labial e escrita, mas reconhece os limites e a cansativa natureza da leitura labial. “Lemos os lábios ou escrevemos quando encontramos alguém que sabe Libras. É um alívio quando conseguimos nos comunicar”, compartilha.
Apesar das dificuldades, Andréa mantém sua determinação de lutar por seus direitos, especialmente quando se trata de suas filhas. Ela destaca a importância de criar um ambiente inclusivo e empático para as gerações futuras. “Meu objetivo pessoal é continuar a cuidar das minhas pequenas e ensinar que não há diferenças nas pessoas especiais, apenas limitações. Plantei uma boa semente”, declara com confiança.
Com voz firme e determinada, Andréa conclama as autoridades locais e o poder público a tomarem medidas concretas em prol da acessibilidade dos surdos em Valinhos. Ela ressalta que a comunidade surda é uma parte vital da cidade e merece ter seus direitos e necessidades atendidos de forma eficaz. Através de medidas concretas, como a implementação de intérpretes, a promoção da língua de sinais nas escolas e a criação de mecanismos de comunicação alternativos para situações de emergência, é possível dar um passo importante em direção a uma Valinhos mais inclusiva.
A jornada de Andréa não apenas inspira, mas também ressalta a urgência de agir para tornar a cidade mais acessível e receptiva a todos os seus cidadãos, independentemente de suas limitações. Ela nos lembra de que a diversidade enriquece a comunidade e que é dever de todos garantir que ninguém seja deixado para trás. Com determinação e esperança, Andréa Luísa Borin ilumina o caminho para um futuro mais inclusivo e compassivo, onde as barreiras são derrubadas e as vozes de todos são ouvidas e valorizadas.