“Quem me dera ao menos uma vez, provar que quem tem mais do que precisa ter quase sempre se convence que não tem o bastante, fala demais por não ter nada a dizer”. As palavras do poeta Renato Russo, cantadas na mítica Índios, vêm facilmente a uma mente que reflita sobre os discursos e entrevistas da recém iniciada campanha eleitoral. Afinal, quanto de fato valem as palavras de candidatos com discursos vazios, previsíveis e repetitivos? Eles merecem sua atenção, seu voto?
A última eleição evidenciou, ainda mais do que as anteriores, o veneno que a sociedade toma ao optar pelo “menos pior”, o “rouba, mas faz”, ou quaisquer outras tentativas vergonhosas de se justificar o mau uso do voto, e o quanto seu papel como cidadão e ser humano deixa a desejar. É isso que facilita a vida dos candidatos, pois com a ignorância, alienação e fanatismo, precisam cada vez menos de coesão, profundidade de conhecimentos e comprometimento humano.
E se o leitor ainda duvida dessa situação lamentável, decorrente de uma estrutura servil de deseducação, basta fazer uma pesquisa rápida na internet e ver o perfil de candidatos que estão sorrindo por receber uma enorme bolada de dinheiro ao colocarem seus nomes para receber uma generosa fatia do fundo partidário. Tem os habituais pastores e militares, claro, tem atrizes e atores pornô, cantores esquecidos, atores falidos, esportistas ineptos e humoristas sem graça. Todos rindo da nossa cara.
E por que tudo isso? Por que o Brasil é um país de tolos, quer dizer, de todos, e todo mundo pode se candidatar e buscar seu lugar ao sol, ou melhor, na sombra? Claro que não! É porque ainda não desenvolvemos a prática efetiva de uma democracia participativa através de cidadãos que saibam questionar e lutar de verdade por melhorias à população. E, como não há, os maus seguem ocupando os espaços públicos, sempre com palavras rasas para justificar, cinicamente, os privilégios de um sistema injusto.