ACOMPANHANTE FALA SOBRE TABUS, PRECONCEITOS E ATENDIMENTOS NO DIA DO SEXO, 6/9

Perrengues financeiros e desilusões amorosas motivaram sua entrada na profissão

Por Bruno Marques

Atendendo pelo nome de Lolla Poltronieri, a acompanhante que é uma das embaixadoras de um site de anúncios do ramo, foi a entrevistada para falar sobre o Dia do Sexo (6/9). Ela é formada em Educação Física, foi cabeleireira, proprietária de salão de beleza, e atua como profissional do sexo há seis anos.

Hoje é o Dia do Sexo (6/9), e o que é o ato sexual para você?

O ato sexual, para mim, é trabalho, uma via de mão dupla onde o prazer tem que ser para ambos. É um jogo bem divertido. 

Tem que ter diversão? É um dos ingredientes que não pode faltar no sexo?

Tem! Diversão, dinamismo, reciprocidade e respeito. Respeitar o limite do outro, porque às vezes tem alguma coisa que a outra pessoa não gosta. Então é muito bom sempre estar atento aos sinais. Isso é fundamental em qualquer relação e no sexo também.

Você acha que homens, mulheres e homossexuais lidam com a questão do sexo de modos diferentes?

Falando de um modo geral, acredito que homens e mulheres lidam de uma forma e homossexuais de outra. Porque nós, eu, mulher heterossexual, e você, homem heterossexual, não acordamos todos os dias com aquela luta de ter que ser quem você não é. E ter que ser julgado também por sentir prazer por pessoas do mesmo sexo.

Então, na questão dos homossexuais, acredito que o sexo é sim pensado e vivido de uma forma diferente. Ainda existe muito preconceito. Para eles, é muito mais complexo do que para nós.

Como foi a sua iniciação sexual?

Foi bem tranquila. Eu perdi a virgindade com 18 anos. Ele também. Nós namoramos por quatro anos. Éramos muito jovens. Com uns 22 anos começamos a querer coisas diferentes, rolês diferentes, enfim, a gente decidiu, respeitosamente, terminar o namoro.

Quando e como você passou a trabalhar com sexo sendo acompanhante?

Foi em 2016. Eu tinha um salão de beleza e acabei fechando por conta da crise de 2014. Morava com a minha mãe e eu só pagava contas. Não me sobrava dinheiro para prosperar na vida. Então, esse foi um ponto: a questão financeira.

O outro ponto foi minha decepção com os homens. Quem conhece a rotina de salão, sabe que é muito difícil de se arrumar uma pessoa, pois não se tem tempo. O trabalho gira de quarta a sábado. Já tive vezes de fechar o salão 2h30 da manhã no domingo.

Então você vai trabalhando e o seu lado pessoal, sentimental, amoroso, vai sendo deixado de lado. E, em determinado momento, comecei a sentir falta. Eu queria um namorado pra passar o tempo, ir no cinema num domingo, procurava até no Tinder.

Mas, independente da minha intenção com eles, a intenção deles comigo era sempre a mesma: sexo! Às vezes, trocava-se meia palavra, tava num barzinho e ouvia: ‘ah, vamos para um lugar mais reservado?’. Aí, obviamente eu já sabia o que o cara queria e inventava alguma desculpa.

E aí eu estava novamente sozinha. O cara fez sexo comigo “de graça”, não recebia nem uma ligação depois, e o vazio nunca foi preenchido. Então, foi devido ao fracasso da minha vida financeira aliado ao fracasso da minha vida sentimental que eu decidi ganhar dinheiro sendo garota de programa.

Quais as piores dificuldades que você teve?

Primeiramente, o preconceito vindo da família, no meu caso, da minha mãe, que, se bobear, até hoje não enxerga como um trabalho legítimo. Mas, também não vou ficar julgando, pois ela já é idosa e quanto mais velha as pessoas ficam, menos elas tendem a mudar. Então, não pretendo mudar minha mãe.

E, preconceito na sociedade em geral, que não vê nosso trabalho como uma profissão. Mas demanda existe. Para todas as idades, gêneros e a fim de todo tipo de serviço. O perfil do meu público, em geral, é homem de 20 a 70 anos, casado, com renda acima de R$ 5 mil.

Muitos não procuram só sexo. Apenas querem desabafar, falar das suas vidas conjugais, família, problemas, empresas, negócios. Também há procura por inversão de papéis, onde ele faz o papel de mulher e eu de homem.

E acontece muito isso?

Demais. Com homens de todas as idades, pais, avôs, que desejam vestir uma roupa feminina, salto alto, maquiagem, sim, tem muito.

Quais os pontos positivos do trabalho de acompanhante e quais aprendizados tem extraído a partir dele?

Se você souber trabalhar de forma correta, honesta, transparente, é possível montar uma clientela. Tenho clientes que me acompanham desde o começo, há seis meses, e também atraio novos. Um dos pontos positivos dessa profissão é poder ser quem a gente é. Sou extremamente sincera e honesta com meu cliente.

Falando em clientes, você já atendeu gente conhecida de Valinhos e região? Alguém da política local?

Já sim, o pessoal da política está sempre no meio. Já atendi guardas, policiais civis e militares, vereadores…

Ser acompanhante é ser uma empreendedora?

Sem sombra de dúvida! E não é porque somos acompanhantes que somos obrigadas a aceitar qualquer tipo de atendimento. Diariamente recebo propostas absurdas, então é preciso ter essa conscientização.  

O que você acha que ainda falta na sociedade para que haja mais conhecimento e respeito pelo trabalho das acompanhantes?

Falta falar sobre. Deixar de ser um tabu. Até pra mim, antes de ser acompanhante, era um tabu. Eu mesmo era uma pessoa que tinha preconceito porque simplesmente não conhecia. Falar sobre combate o preconceito.

Veja a entrevista completa no canal do Jornal Terceira Visão no Youtube.

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