AMPLIAÇÃO DE CEMITÉRIO É A SOLUÇÃO?

Sepultamentos convencionais contaminam o solo e fazem uso questionável de espaço

O Cemitério Municipal está em processo de ampliação. Neste mês, a Prefeitura anunciou o início da segunda etapa da obra. A extensão se concentra em área adjacente ao local e contará com 73 novos jazigos.

As alterações estão sendo feitas para atender a alta demanda. Tomando por base apenas a publicação de uma das empresas funerárias da cidade, morrem, em média 15 pessoas por semana em Valinhos. Segundo a Prefeitura, a Secretaria de Serviços Públicos já gastou R$ 128.879 na obra até o momento.

Questionado pelo Jornal Terceira Visão, o Executivo Municipal respondeu que a finalização da ampliação será executada por funcionários da Secretaria de Serviços Públicos. Isso inclui regularização do terreno, concretagem do piso, adequação de drenagem da água de chuva, retirada parcial do muro de divisa da parte antiga e construção da rampa de acesso do atual para o ampliado.

Prática traz questões ambientais e imobiliárias que são, literalmente, enterradas

Prejudicial ao meio ambiente

Os cemitérios mais antigos não apresentam nenhum tipo de planejamento. Construídos em locais onde o subsolo é bastante vulnerável, a maioria deles tem drenagem da água da chuva é precária. A água da chuva, após atravessar os cemitérios, cai na rede pluvial urbana, sendo depois canalizada para corpos d’água contaminando as águas superficiais com as substâncias presentes no necrochorume. Nos cemitérios localizados onde o lençol freático é pouco profundo, as chances de contaminação das águas subterrâneas são grandes.

Ainda em 1998 a OMS (Organização Mundial de Saúde) publicou um relatório afirmando que os cemitérios seriam uma fonte potencial de poluição, podendo causar impactos ambientais no solo e lençóis freáticos. Isso por conta da liberação de substâncias orgânicas e inorgânicas e microrganismos patogênicos através da decomposição dos corpos.

Se a umidade do solo for alta, pode ocorrer a saponificação, que é um processo que retarda a decomposição do cadáver. Nos cemitérios brasileiros, em razão do clima quente e úmido, e da invasão das sepulturas por águas subterrâneas e superficiais, a saponificação é comum.

Desperdício de espaço?

Dados estimativos de consultas imobiliárias em Valinhos apresentam que o preço médio do metro quadrado na cidade é de R$ 5 mil. Multiplicado pela quantidade da área expandida que é 644,33 m2, chega-se ao valor estipulado de R$ 3.220.000.

Segundo a assessoria da Prefeitura, o Executivo Municipal criou um grupo de estudos a pedido da prefeita para reavaliar os processos parados das administrações anteriores a fim de verificar a viabilidade de implantação de cemitério vertical.

Estima-se que cada cadáver pode produzir cerca de 30 a 40 litros de necrochorume em um período de seis meses a três anos, dependendo das condições em que foi enterrado. Dogmas religiosos e falta de atenção do Poder Público às evidências de que os sepultamentos convencionais prejudicam o meio ambiente apenas protelam o problema que, com o fluxo natural de mortes, só se agrava.

Em outras palavras, o investimento despendido e a área utilizada apenas procrastina a solução ideal para o problema. A grosso modo, cavar mais covas para suprir uma demanda de mortes que é admitidamente alta, seria como “solucionar” a obesidade fazendo mais um furo no cinto. Ou seja, além de não resolver o problema, o torna ainda maior.

Necrochorume

É o líquido viscoso que sai do corpo em decomposição. Sua cor varia de laranja-avermelhado a cinzento. Possui duas substâncias altamente tóxicas: a putrescina e a cadaverina. Podem abrigar vírus e bactérias. Os microorganismos podem proliferar num raio superior a 400 metros do cemitério. É malcheiroso, poluente e contamina o lençol freático quando não recebe tratamento adequado.

Vale salientar que no necrochorume também podem ser encontrados formaldeídos e metanol (utilizados no embalsamento dos corpos), além de metais pesados (dos adereços dos caixões) e resíduos hospitalares (medicamentos).

73

novos jazigos foram anunciados pela Prefeitura. O problema é que, só pelo obituário publicado por uma das funerárias da cidade, há a média de 15 pessoas que morrem por semana.

30

a 40 litros de necrochorume. É o que um cadáver libera no solo em um período de seis meses a três anos, dependendo das condições em que foi enterrado. Esta é a quantidade média, pois para cada quilo corporal, gera-se em torno de 0,6L de necrochorume.

5

mil reais. Valor médio do metro quadrado na cidade. Os cemitérios demandam áreas extensas além de contínua necessidade de ampliação, o que leva também a um problema imobiliário.

Leia anterior

ANÁLISE DO ‘1º TEMPO’ DA TEMPORADA 2022

Leia a seguir

ICMS. POR QUE VALINHOS RECEBE BEM MENOS DO QUE CIDADES PRÓXIMAS?