

Por João Paulo Vieira – Escritor
Olá, legente!
Como estão as coisas?
Tem um tempinho? Perguntei sobre o seu tempo, porque não existe nada mais caro ou valioso no mundo. E se alguém falar o contrário disto, faça ouvidos moucos.
Karl Marx disse que “O tempo é o campo do desenvolvimento humano”. Ele disse “humano”, não das coisas.
Não é raro ouvir alguém se referir ao tempo de uma coisa, um bem material, uma máquina, usando a expressão “vida útil”. Mas que vida, se as coisas não as têm? Os objetos não possuem espírito, são inanimados, não nascem ou morrem, não têm desejos ou sonhos, são apenas cacarecos, engenhocas, geringonças, nada mais. Não deveríamos chorar por eles, nem os venerar ou os enterrar com honras. Por mais interessantes que possam ser, nunca viveram. Mas a gente se esquece disso… E desperdiçamos a dimensão maior e mais cara de nossas vidas — o tempo — para criar coisas, comprar coisas, quebrar coisas e repetir o processo de maneira infinda.
Foi Nietzsche quem pontuou: “Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for”. É, meu caro legente… Se você não tiver suas dezesseis horas livres por dia, talvez não seja alguém tão livre quanto pensa que é. Talvez você esteja dormindo menos do que deveria; se alimentando rápido demais e mal; lido pouco ou nada; amado ninguém, inclusive a você mesmo.
Não se admire se alguém te perguntar o quanto você ainda tem de vida útil.
Há uns dias eu conversava com um amigo sobre os sentimentos que surgem com o inevitável processo de envelhecimento de cada um de nós e como passamos a enxergar a importância de coisas simples, que deveríamos ter feito quando mais jovens: algum exercício físico, uma leitura por prazer e não profissão etc.
O problema de um sistema econômico baseado nas coisas é que tudo fica coisificado, desumanizado, principalmente nós.
Não se desespere, por favor, acaso tenha descoberto que nos últimos tempos você anda sem tempo para você. Primeiro porque você não está sozinho nessa, segundo pelo motivo de que antes tarde do que mais tarde. Sempre é tempo.
“Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial”. Quem disso isso foi Rubens Alves.
A sugestão que faço, portanto, é que abramos mão das coisas, pois elas roubam nosso tempo.
Na verdade, é provável que as coisas até sejam dotadas de alguma espécie de essência — maligna, no caso —, capaz de sugar nossas vidas na tentativa de poderem dizer que tiveram uma longa e bela “vida útil”.