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Atílio Fracaroli, o saudoso carnavalesco valinhense  

Ernesta, viúva do artista Atílio, afirma: “Quem o conheceu, sabe o quanto ele era maravilhoso”

No período de carnaval, as pessoas assistem a diversas apresentações, principalmente os espetáculos nas ruas, que são de responsabilidade das escolas de samba. Porém, não é de conhecimento geral que, dentro dessas escolas, existem mentes por trás de toda a beleza vista nos desfiles. Esse é o trabalho dos carnavalescos. Eles pensam, desenham e elaboram tudo o que ocorre no dia em que acontece toda a passagem dos carros alegóricos.

Um dos carnavalescos mais conhecidos em Valinhos era o falecido Atílio Fracaroli, que já esteve à frente de diversas escolas de sambas pela cidade quando ainda eram realizados os desfiles nas ruas. Até hoje ele é lembrado por diversos moradores do munícipio. Com o intuito de homenagear esse grande artista que marcou o carnaval de Valinhos, a equipe do Jornal Terceira Visão entrou em contato com a viúva de Atílio, Ernesta Brocchi, que contou a história de vida do seu falecido marido.

Como você conheceu ele?

O meu marido era músico, ele compunha e tocava. Quando nós nos conhecemos, ele estava tocando em um barzinho que era do meu cunhado, Luiz Jesuíno. Nós casamos e vivemos juntos por 14 anos. Já faz 15 anos que ele morreu.

Como começou a paixão dele pelo carnaval?

Atílio era valinhense e, quando jovem, foi estudar Arquitetura no Rio de Janeiro. Foi assim que ele começou a fazer amizade com as pessoas das escolas de samba de lá, principalmente da Beija-Flor. Meu ex-marido desfilou umas 2 ou 3 vezes no Rio e, logo ao voltar para Valinhos, o meu cunhado e ele formaram a escola de samba Arco-Íris, que surgiu no bairro São Cristóvão, porque lá morava toda a família dele. Foi aí que ele começou a ser carnavalesco, ocupação que manteve por muito tempo. Depois ele fez um ano de União da Vila e três de Unidos da Madrugada. Antes de falecer, um ano e meio mais ou menos, mesmo doente com Hepatite C, Atílio continuou participando, fazendo desenhos de roupas no hospital.

Ele já ganhou prêmios por isso?

Ele ganhou diversos carnavais. Não me lembro o ano, mais o Country Clube venceu em primeiro lugar como salão mais bonito da região de Campinas. Eles tinham feito um hino, e o Atílio foi responsável pela decoração. Sempre que havia esses concursos de Campinas, ele ganhava troféus.

Como ele se preparava para montar os carnavais?

Ele se reunia com a organização das escolas e decidiam o tema das músicas. Quando ele estava doente, um ano antes dele falecer, eles cantaram sobre os profetas de Minas Gerais, assim ele estudava, fazia pesquisas, conhecendo as histórias, porque no carnaval existem critérios para contagem de pontos, então tudo era nos mínimos detalhes, já que vinham jurados da liga de São Paulo. Então, existia uma certa rivalidade. Somente na hora, pois todos tinham uma amizade. O processo criativo era todo desenvolvido por ele. Atílio era um artista.

Como vocês lidavam nesta época? Era corrido?

Para nós, essa época era bem trabalhosa. Eu também me envolvia. Fazíamos compras em São Paulo, medíamos as coisas, íamos realizando diversas coisas na escola de samba. Uma das sobrinhas dele, a Juliana, ajudava também, e assim como ele, era super perfeccionista e uma artista. Ela era o braço direito dele na questão dos enfeites, dos arranjos e dos costeiros. É tudo muito bonito de se assistir na avenida, mas na hora de preparar é muito complicado.

Você ajudava bastante ele neste quesito?

Eu ajudava, mas não era tão perfeccionista. Diferente dele, que olhava e conseguia, de maneira clara, apontar aonde estava o erro. Eu sempre gostei do carnaval. Gosto muito de samba e sempre pulei muito carnaval. Então, juntou nossos interesses. Quando comecei a gostar, eu ainda nem conhecia o Atílio. Era uma época maravilhosa! Nós trabalhamos bastante e eu aprendi muita coisa com ele.

Como ele era fora do carnaval?

Ele era um excelente cozinheiro, um ótimo avô. Mesmo nós não tendo filhos, eu já tinha os meus do antigo relacionamento e meus netos chamavam ele de “Avô Tilhinho”. Meu ex-marido era um companheiro maravilhoso e muito bondoso. Então, sempre que havia algo relacionado com som e ações beneficentes, ele estava disposto. Atílio era uma pessoa alegre, tocava e compunha muito bem, ou seja, quem o conheceu, sabe o quanto ele era maravilhoso.

Você sente falta do carnaval de rua em Valinhos?

O carnaval faz muita falta para Valinhos porque era uma época que tinha a união de famílias e amigos. Desde o começo, era algo muito esperado, pois era muito bonito. Tudo isso faz muita falta para o valinhense, pois quem é pé de figo como eu, possui diversas histórias de várias situações, inclusive do carnaval

Você sente uma diferença entre o carnaval feito hoje e o feito na sua época?

Sim, hoje em dia não existe carnaval como era antes. Não é a mesma coisa porque nessa época existia o carnaval de rua e o de salão. Como o mundo mudou, hoje em dia todo mundo dança quando quer, então eu acho que se perdeu aos poucos. Hoje não tem, só vemos os blocos em São Paulo. Aqui em Valinhos não temos mais blocos.

Ernesta, o Atílio era um artista, e como você conviveu muito com ele, fale um pouco sobre a arte.

Eu acredito que a arte move a gente. Quando você olha uma coisa e não enxerga ela como arte, a diferença é grande. Você pode ver um arranjo de flor como uma coisa, você não tem aquele olhar de beleza e significado, ou seja, a arte faz parte da vida. Sem a parte artística, não se vive, a vida se torna negra.

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