Olá, legentes!


Ainda na linha do que escrevi em meu artigo anterior para este jornal: “Recivilizar é urgente”, da Edição 1688, quero iniciar parabenizando a quem de alguma forma apoiou os movimentos havidos em todo o país, que se posicionaram contra toda e qualquer forma de violência às mulheres.
É impossível ignorar o impacto dos movimentos feministas e antimachistas que tomaram conta do Brasil. Essas mobilizações, urgentes e necessárias, surgem como resposta aos recordes alarmantes de violência contra mulheres em nosso país. O feminicídio, em especial, nos coloca em posição de destaque negativo nos levantamentos internacionais, evidenciando uma crise que exige ser enfrentada com seriedade e ação coletiva.
O termo “pandemia” passou a ser usado para descrever a disseminação do feminicídio no Brasil, evocando a ideia de uma epidemia de violência que atinge proporções assustadoras. Embora a palavra costume ser associada a doenças transmissíveis, como vimos na crise da COVID-19, a analogia revela a amplitude e gravidade do fenômeno, que afeta milhares de mulheres todos os anos.
Segundo dados recentes da ONU, o Brasil ocupa a quinta posição mundial em número de feminicídios, com tendência de agravamento. Se outros países conseguem controlar essa “epidemia”, nós, brasileiros, parecemos não estar fazendo nossa lição de casa, correndo o risco de liderar esse triste ranking global.
Apesar da força simbólica do termo “pandemia”, é preciso reconhecer suas limitações. Uma pandemia, no sentido literal, é causada por agentes externos, como vírus ou bactérias ou até fungos. O feminicídio, por outro lado, nasce de práticas sociais, culturais e históricas profundamente enraizadas no inconsciente coletivo masculino, resultado de milênios de patriarcado e machismo estrutural. Nesse contexto, nós, homens, somos os “vetores” de um mortífero patógeno comportamental. Não há vacina de laboratório capaz de erradicar comportamentos violentos e opressivos; a mudança precisa acontecer na consciência, nos valores e na educação.
A saída para essa crise não está em soluções fáceis ou rápidas, mas em um processo de reeducação profunda e contínua dos valores humanos. A transformação deve começar desde a infância, com a educação de meninos voltada para o respeito, a igualdade e a não violência contra mulheres. Embora pareça uma tarefa de longo prazo, é a única esperança de mudar estruturalmente o quadro atual. A responsabilidade pela mudança é coletiva, mas é fundamental que os homens assumam o protagonismo — não sei se esta é a melhor palavra; talvez coadjuvante seja o mais correto —, nesse processo, refletindo sobre seus próprios comportamentos e valores, e ajudando a construir uma sociedade mais justa e igualitária. A humanidade, afinal, não pertence apenas aos homens — ela engloba todas as pessoas, independentemente do gênero.
Chamar o feminicídio de pandemia pode ser um equívoco técnico, mas reforça o caráter urgente e global dessa luta. O Brasil precisa enfrentar essa crise com políticas públicas eficazes, educação de qualidade e mudanças culturais profundas. Se começarmos agora, talvez, em algumas gerações, possamos ver uma diminuição significativa desse fenômeno, tornando o país um lugar mais seguro para todos e todas.
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