Nome de seu negócio próprio vem da história de superação, por vir de uma comunidade de São Paulo
Por Victor Braga
Nascido em Paraisópolis, uma das maiores favelas do estado de São Paulo (com mais de 100 mil habitantes), Tiago da Silva Neves, 37, buscou conquistar seus sonhos e objetivos. Realizou cursos de teatro que o ajudaram na desenvoltura, sendo uma grande ferramenta que seria, ainda, bastante utilizada em sua vida.
Com dezoito anos de idade, foi atrás de um emprego. Percorreu a região central paulistana entregando currículo em diversos lugares, desde lojas até mercadinhos. Tiago conta que em uma das empresas de calçados, o gerente acreditou que ele seria um ótimo vendedor e o contratou, mas naquele momento não havia vagas na área, sendo então realocado para o estoque.
Durante uma visita do supervisor da empresa, ele teve que mudar para a área de vendas, pois, segundo ele, o superior não queria deixá-lo como estoquista, por estar cuidando de todo o material da loja. Tiago comenta que “ele achava que eu ia roubar a loja”. Mal sabia que isso seria a melhor oportunidade para ele. Foram doze anos trabalhando no estabelecimento, de estoquista para gerente operacional, chegando a ganhar cerca de oito mil reais por mês.
São Paulo traz uma grande diversidade por ter moradores de diversos lugares do Brasil e isso era uma grande alegria. Sua paixão é o contato com pessoas e suas histórias. E a cidade paulistana trouxe essa oportunidade de conhecer muitas pessoas.
Mas uma proposta o trouxe para Valinhos, como gerente de uma rede de lojas na cidade. Durante cinco anos, ele gerenciou o estabelecimento e supervisionou as lojas em outras cidades. Tiago tirou sua mãe do trabalho de empregada doméstica para que ela pudesse descansar.
Com 30 anos, vieram os pensamentos de “preciso fazer alguma coisa”, “o que eu fiz e conquistei até hoje?”. Esses questionamentos estavam em sua mente e, com isso, em 2017, ele deu um passo para abrir seu próprio negócio.
Ali nasceu a Favela Surf, empresa cujo nome vem da história vivida por Tiago. Ele traz com orgulho um nome que por muitos é usado como algo negativo, mas pra ele, faz parte de sua história, mostrando de onde ele veio e aonde ele chegou.
Vendeu seu carro e outros objetos para começar sua nova trajetória. A loja, localizada no São Bento – em Valinhos -, passou por todos os passos necessários para que crescesse. Começou realizando diversas ações nas redes sociais com a finalidade de trazer visibilidade para a empresa.
Com várias e várias sacolas em seus braços, ele mesmo realizava as entregas dos seus clientes. Marcava horário na rodoviária e ia até o local. Suas roupas eram compradas em São Paulo, para onde ele viajava de ônibus toda vez que seu estoque estava acabando.
Após um ano, em 2018, ele conquistou sua segunda loja, na Capela – em Vinhedo. Mesmo com certo receio de que não daria certo, por pensar que a cidade só tinha moradores ricos. “Eu não conhecia o coração de Vinhedo que é a Capela”, comentou.
“Me encantei, vou ter que vir morar em Vinhedo”, completou. Com isso, ele começou um novo processo, passo a passo, para montar sua segunda loja. Com todo o sucesso da marca, na virada do ano de 2019 para 2020, ele realizou seu mochilão por várias cidades do exterior. Foi para Paris, Londres, Dublin, e outros locais. Foram 15 dias para comemorar sua conquista.
“Você não tem noção do que um sonho seu pode fazer com a sua vida, com a sua determinação. Eu peguei e falei ‘Eu estou em Paris’, olha como eu não podia ter desistido”, relatou Tiago.
Mas um novo obstáculo surgiu em sua vida e de todos ao redor do mundo. A pandemia da Covid-19. Tudo parou, a quarentena fechou os estabelecimentos, e Tiago teve que fazer o mesmo. Para economizar os gastos, fechou sua loja no São Bento, mantendo somente a de Vinhedo.
Foi um grande desafio. Com todos os funcionários afastados, ele teve que dar um jeito para sustentar seus empregados e sua vida particular. Com o telefone tocando e apitando, as buscas por vestimentas continuava chegando por seus clientes no celular da loja. Com isso, Tiago resolveu fazer tudo sozinho até que a pandemia melhorasse. Com o retorno dos estabelecimentos, os seus funcionários voltaram aos trabalhos.
Durante o período, Tiago realizou diversos projetos sociais em asilos de idosos, ações para os moradores de rua e pessoas em vulnerabilidade social. Sua vida não se mantinha parada com tantos acontecimentos.
Além disso, recebeu a proposta de fazer um programa ao vivo em uma rede social. Foram oito lives com diversas atrações, trazendo entretenimento e cultura aos espectadores.
Hoje, com duas lojas, na Capela – em Vinhedo -, e a nova, inaugurada no São Marcos, em Valinhos, Tiago comentou sobre a importância de entender qual é o seu talento e seguir o melhor caminho para melhorar essa habilidade.
“Faça o que ama. Não faça pelo dinheiro. Isso será decorrente ao seu mérito e o que você deu para receber. Procure qual é o seu talento”, comentou.
Tiago completou: “Deus me deu o dom de ser vendedor. Eu não falo que sou empresário, eu sou vendedor. Eu venderia desde uma pedra que a gente pisa no chão ao céu que tá lá em cima, e eu ganharia dinheiro porque Deus me deu esse dom”.
Além disso, Tiago está desenvolvendo novos projetos. Um curso ministrado por ele mesmo será realizado para pessoas que desejam abrir seu próprio negócio. E também, um novo site está sendo feito aos interessados em comprar com a Favela Surf. O novo projeto é intitulado “Construindo Sonhos”, e traz a oportunidade para quem deseja comprar atacado (grande quantidade de peças) com a empresa. Será disponível para todo o Brasil.
Pensando em toda sua trajetória, ele possui um objetivo: aposentar aos 40 anos. E segue realizando o planejamento para alcançar isso. “Ser vendedor é bom porque não pega peso fisicamente, mas mentalmente… sua mente é desgastada”, comentou.
Durante anos trabalhou todos os dias, muitos em que ele acordava de madrugada para resolver todos os compromissos. Mas, mesmo que ele se aposente na idade escolhida, um novo projeto já está sendo desenvolvido.
Ele possui a vontade de realizar palestras em escolas públicas para incentivar os jovens ao empreendedorismo. Mostrando para todos que, como ele foi capaz, outros também podem.