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Expansão industrial ou preservação agrícola?

Agricultores do Macuco, Capivari e Reforma Agrária estão receosos com mudanças no plano diretor que, segundo eles, pode acabar com a produção de alimentos

Por Bruno Marques

Crescimento, expansão, investimento. Quando se falam essas palavras tão clichês nas bocas de políticos é importante a ressalva básica: elas são para quê, para quem e por quê? Os trâmites da formulação do plano diretor estão repletos desses termos e são exaltados tanto pela Prefeitura, quanto pela Câmara.

Contudo, para produtores agrícolas de Valinhos, medidas que estão prestes a serem aprovadas podem significar o fim da produção agrícola nos bairros Macuco, Capivari e Reforma Agrária.

Produção de mirtilo, goiaba, figo e outras produções alimentícias podem estar em risco

Estritamente industrial

Em entrevista ao Jornal Terceira Visão, a advogada Floriane Pockel Fernandes Copetti, que é membro do Conselho de Desenvolvimento Rural de Valinhos, apresentou contradições no Projeto de Lei 185/2022 (novo plano diretor) apresentado pelo Poder Executivo. “Embora o mesmo fale em fomentar a agricultura no município, é contraditório quando a mesma comissão de sistematização propõe alterar parte do bairro Macuco para área industrial, região que tradicionalmente é ocupada por agricultores, em sua maioria de fruticultura e que representa grande parte da produção agrícola do município”.

Segundo ela, o novo plano diretor quer tornar parte do Macuco, que hoje é  MDRS – Macrozoneamento de desenvolvimento rural sustentável para MDO4, uma área estritamente industrial.

Permissão para poluir

Em análise das mudanças planejadas, segundo a advogada, em boa parte das áreas industriais do Macuco e Capivari será permitida a instalação de indústrias de maior impacto ambiental, com poluição sonora, atmosférica, hídrica, resíduos sólidos, e geração de tráfego contínuo de veículos leves e pesados.

Outro lamento de Floriane é que, de acordo com ela, não foi feito qualquer estudo técnico para verificar o grande impacto que estas alterações trarão para a região e para o município.

Famílias prejudicadas

Floriane Pockel citou famílias que serão diretamente prejudicadas caso os problemas recorrentes das mudanças no plano diretor seguirem adiante: “A família Yamamoto (Chácara Nova Esperança), que produz goiaba e mirtilos; o Sítio Honda, que produz goiaba; o sítio da Flavia Milanese, que produz goiaba e agora está plantando figo; a propriedade do Eduardo Ishibashi, que também produz goiaba; o sítio da família Torrezin (Ana e Geraldo), a propriedade do Gilmar Bernardino, entre outros”.

É possível verificar que a maior parte da área ainda é produtiva e tem muitas plantações

Trânsito

A advogada analisou que não há qualquer estrutura para recepcionar tantas indústrias: “O tráfego da região já é caótico. Existe um único acesso às rodovias e ao portal, e ele fica totalmente congestionado nos horários de entrada e saída”.

Água

As propriedades inseridas na MDO04 estão situadas em área de Bacia Hidrográfica Estratégica para a Região de Campinas, a do Rio Capivari, inserida nas ações de conservação e recuperação dos mananciais que abastecem o Rio Piracicaba. A Bacia do Capivari e seus mananciais precisam ser preservados e não colocados em risco, destacou Floriane.

Fim da agricultura

Por fim, a advogada alertou que, além das consequências ambientais, Valinhos pode sofrer um possível êxodo rural e amargar o encerramento das atividades agrícolas na região. “Questiono até se haveria interesse por parte de empresários em instalar indústrias em um local que não qualquer estrutura viária, cujo trânsito é caótico, que sequer tem saneamento básico”, concluiu.

Esgoto na comida

Segundo o produtor Laércio Honda, estas alterações que vem sendo propostas pela comissão de sistematização do novo plano diretor, inviabilizam a continuidade da atividade agrícola. “O esgoto e efluentes poluidores destes empreendimentos alcançarão as pequenas represas utilizadas para irrigação das lavouras. Com a contaminação do lençol freático, a água torna-se impróprio para consumo humano. Isto já acontece com a área industrial atual”, explicou.

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