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Maceta, mainha

Escrevo este artigo, do alto desta Quarta-Feira de Cinzas, enquanto penso que se o IBGE realizasse, hoje, uma pesquisa estatística entre os arlequins e colombinas, teria como resultado, 100% do país em ressaca, por conta dos excessos carnavalescos ou pelo arrebatamento apocalíptico do trio eletroconvulsivo da pregadora alegórica, mais nova “teóloga” do domínio, a ‘popstora” Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade — Baby Consuelo ou do Brasil, ou qualquer outra “variação”.

A ex-nova baiana, com seus 71 anos, esfriou os pandeiros, escureceu os terreiros e profetizou no circuito Dodô (Barra-Ondina), em Salvador, BA, afirmando que o mundo vai acabar, entre 5 ou 10 anos — o que parece um sopro, para um planeta com 4,54 bilhões deles, tão jovem e com tantas possibilidades pela frente. Mas, segundo Bernadete, é isso e não adianta “chorare”, porque acabou.

Difícil foi saber disso, bem no carnaval. Mas quem mandou ser, apocalipticamente, mal-informado?

Nossa sorte, enquanto brasileiros, é que temos a mainha, que não desampara ninguém, desde o filho “rebelde”, que não queria tomar água, até o mais pagão dos foliões.

Veveta, não se intimidou, diante das trombetas apocalípticas e macetou o fim dos tempos, com a categoria divina que só ela tem.

Mainha foi tudo, neste carnaval.

Deu isotônico para o filho; cantou; dançou; pulou; foi general da banda; organizou o trânsito dos trios e o mar de gente no entorno, para Léo Santana passar; pediu calma; agitou e de quebra, lutou pelo mundo, contra o fundamentalismo da teologia do domínio.

Ivete, que nem foi tropicalista, organizou o movimento, orientou o carnaval e se tornou monumento, sem estar no Planalto Central do país — mas só porque não quer, pois não é qualquer uma que se joga na pipoca, para os braços do povo e é tão bem recebida.

Carnaval é coisa séria e não é brinquedo, não.

A festa mais democrática da Terra escancara as realidades escondidas nas fantasias usadas nos demais dias do ano.

Tudo transborda e vêm à tona os sentimentos represados.

Como em “Fantasia”, de Aldir Blanc e João Bosco, “Custei a compreender que fantasia é um troço que o cara tira no carnaval e usa nos outros dias por toda a vida.”

Dona Consuelo, — Baby — pastora Pop, não estava de brincadeira, nem de chiste, em sua pregação. Sabia exatamente o que desejava arrecadar, diante das almas mais frágeis e que se deixam levar por qualquer palavra ou promessa de salvação, não sem antes contribuírem para a sua igreja — Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus.

O que Bernadete não esperava era que a Ivete Maria mandasse uma resposta tão lúcida e tempestiva, contra a trombeteadora: “Eu não vou deixar acontecer, porque não tem apocalipse certo quando a gente maceta o apocalipse.”

A teologia do domínio, da qual Baby das Nações — versão mais recente — se diz apóstola, em uma chamada coalizão apostólica global, tem por intenção a dominação de todos os demais segmentos cristãos, numa nova hierarquia capaz de controlar não apenas a fé, através de um governo religioso, mas também a ciência, cultura, economia, educação etc., como ensina o cientista político e sociólogo, Jocimar Silva.

A pregação de Baby é parte de um projeto de poder, em desenvolvimento, que precisa ser macetado, sem que se contrarie a liberdade religiosa de cada um, pois não se trata de um combate religioso, mas uma defesa da democracia, contra um plano de implantação de um modelo antidemocrático de totalitarismo fundamentalista cristão.

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