Entre 2004 e 2024, 3.413 mulheres foram resgatadas de situações de trabalho análogo à escravidão no Brasil. No ano passado, 200 mulheres foram socorridas, segundo dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, iniciativa que reúne entidades como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A maior parte das vítimas resgatadas na última década tem entre 18 e 24 anos – faixa etária que representa 22,35% dos casos (763 mulheres). Em seguida, estão as mulheres entre 25 e 29 anos, com 497 vítimas (14,5%). Por outro lado, os menores índices são de mulheres com 60 anos ou mais e 18 anos ou menos.
Em 2023, das 222 mulheres resgatadas, 74 (33,3%) pertenciam a dois grupos principais: metade entre 25 e 29 anos e a outra metade entre 40 e 44 anos.
Homens ainda são a maioria das vítimas
Embora o número de mulheres seja alarmante, os homens ainda representam a maior parte dos resgatados. No mesmo período de 20 anos, 44.428 homens foram encontrados em condições de trabalho escravo contemporâneo no país.
A baixa escolaridade é um fator determinante para a vulnerabilidade ao aliciamento e exploração. Dos 48 mil casos totais, 15.976 pessoas (32,8%) interromperam os estudos antes de concluir a 5ª série do ensino fundamental, enquanto 12.438 (25,5%) eram analfabetas.
O que é trabalho escravo contemporâneo?
No Brasil, a legislação classifica como trabalho análogo à escravidão qualquer atividade forçada em que a pessoa seja impedida de sair do local de trabalho ou esteja submetida a condições degradantes e jornadas exaustivas.
Entre as principais características do trabalho escravo contemporâneo estão:
✔ Jornadas exaustivas – expediente intenso e prolongado, que compromete a saúde física e mental do trabalhador.
✔ Condições degradantes – falta de higiene, segurança, moradia digna, descanso e alimentação adequada.
✔ Servidão por dívida – retenção do trabalhador sob justificativa de que precisa pagar uma suposta dívida ao empregador.
✔ Vigilância ostensiva – controle abusivo da liberdade do trabalhador, impedindo sua saída do local de trabalho.
Como denunciar?
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) mantém a campanha “De Olho Aberto para não Virar Escravo”, alertando sobre os setores mais críticos. A agropecuária é o principal deles, com 17.040 casos (27,1%) apenas na criação de bovinos. Já o cultivo da cana-de-açúcar representa 8.373 resgates (13,3%).
As denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Sistema Ipê, do governo federal. Outra alternativa é o aplicativo Laudelina, voltado para denúncias de trabalho escravo doméstico. A plataforma pode ser acessada pelo celular ou computador, funcionando mesmo em conexões de internet mais lentas.