Riqueza agrícola motivou logística férrea teve o sabor amargo das crueldades da escravatura
Por Bruno Marques
Café. Ah, bebida indispensável do cotidiano de tanta gente. Sua influência não dominou apenas o paladar do país e de vários lugares do mundo, mas também foi o alicerce da economia brasileira por mais de 100 anos (1.800 a 1.930).
Em Valinhos e região não foi diferente. Muito pelo contrário. Campinas já foi uma das grandes cidades produtoras de café no Brasil, o que implicou em poderosos barões e a formação do arraigado elitismo local.
Segundo informam dados presentes no Museu e Acervo Municipal Fotógrafo Haroldo Angelo Pazinatto, baseados em várias referências bibliográficas, haviam 177 fazendas de café em Campinas, no ano de 1854. Valinhos fazia parte do território campineiro.
E, para se ter uma ideia da enorme pujança do poder econômico do café na região, era a Estação Vallinhos – isso mesmo, com dois L’s, como mostra a foto – que teve o maior despacho de café de todo o estado de São Paulo em seus seis primeiros meses em que esteve operação. Ela foi inaugurada em 31 de março de 1872. A pesquisa foi feita pela Associação de Preservação Histórica de Valinhos.
Contudo, toda essa riqueza na mão de poucos foi construída no lombo de muitos. De acordo com a referência histórica exposta no museu do município, em 1887, um ano antes da abolição da escravatura e dois antes da epidemia de febre amarela, Campinas tinha 51.239 habitantes, 9.986 deles eram escravizados. Ou seja, quase um em cada cinco. A trajetória do café tem a ver até com seu efeito e sabor: impulsiona tantos trabalhadores, mas com profundo amargor histórico.