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ONDE DÓI? COMO POSSO AJUDAR?

 “- Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida, isso é responder à pergunta fundamental da filosofia.” Com essa frase do filósofo Albert Camus iniciamos nossa reflexão visando o tema deste mês: setembro amarelo. Fique comigo até o final.

O suicídio é também conhecido como uma ‘morte voluntária’, onde o sujeito que consuma tal ato opta por colocar um ‘ponto final’, mas onde de fato tal sujeito objetiva colocar tal ponto? O que tem em mente cessar, interromper, acabar? Seriam dores emocionais, sofrimentos, estresse, bullying, falta de perspectivas futuras…? Aristóteles, grande nome da filosofia ateniense, expõe que somos seres dotados de razão, mas então como pensar que alguém delibere racionalmente a tirar a própria vida? Ou será que quem o faz estaria tomado por emoções tais como: medo, desespero, angústia, solidão, tristeza ou até mesmo uma falta sentido na vida?

Segundo o filósofo romano Sêneca em sua obra chamada Cartas a Lucílio: “- O motivo que antecede o ato suicida não está na forma como agimos, mas sim nas razões que nos levam a agir assim”. Será que temos mesmo real razão para escolher pôr um fim em nossa jornada existencial? Será que se nos abríssemos e conversássemos sobre o que nos aflige; o que nos machuca, o que nos preocupa não conseguiríamos dividir tal fardo deixando-o mais leve e possível de ser carregado?

 “- O suicida quer a vida; porém está insatisfeito com as condições sob as quais vive. Quando destrói o fenômeno individual, ele de maneira alguma renuncia à Vontade de vida”, frase célebre dita pelo filósofo Schopenhauer que me fez lembrar uma de Augusto Cury, grande nome da psiquiatria: “- Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida”. A “beleza ou a dor” de existir são respostas que cada um de nós tem de dar a si mesmo. O suicídio é uma decisão solitária, por vezes encarada como corajosa. Aqui volto ao filósofo Camus: “- Um gesto desses (o suicídio) se prepara no silêncio do coração…”, Camus reforça que se tivéssemos noção de que vivemos num mundo cheio de ilusões (principalmente as das falsas alegrias midiáticas) e sem certezas do futuro, sobrecarregados pela responsabilidade que a nós compete, como sugeriu o filósofo francês Jean-Paul Sartre, de escolhermos nossa vida e o rumo dela, acabamos nos sentindo angustiados e como que “estrangeiros” neste mundo e em nossa própria jornada existencial.

Em face do “absurdo” que constitui esse divórcio entre o homem e sua vida é que se instaura nosso maior desafio: escolher por seguir vivendo. Por mais “absurdo” que possa parecer estar vivo em meio a coisas, pessoas, valores que não respondem ou atendem às nossas demandas, ainda assim vale a pena o esforço em continuar vivendo.

Shneidman (um psicólogo clínico americano) enfatiza que a fim de se prevenir o suicídio não é necessário estudar a estrutura do cérebro, tampouco amparar-se nas estatísticas sociais ou nas doenças mentais. O foco são as emoções humanas, e como diria Camus novamente: “- O verme (do suicídio) se encontra no coração do ser humano”. O propósito central do suicida é buscar uma solução para esse desconforto aparentemente incontornável: necessidades psicológicas frustradas, uma solução solitária e desesperada para aquele que sofre e que parece não vislumbrar alternativas. E se isto nos permitir aliviar, em alguma medida, a dor de um semelhante, proponho que tentemos nos aproximar dele com as duas perguntas fundamentais a que Shneidman nos convida: onde dói? Como posso ajudar?

Em Setembro o mês é dedicado a Prevenção do Suicídio, o objetivo é conscientizar as pessoas ao redor do mundo que o suicídio pode ser evitado. No Brasil o suicídio ocorre em média a cada 45 minutos. No mundo a cada 40 segundos. Não guarde suas dificuldades e angustias só para você, comunique-se, fale, partilhe, busque ajuda: Valorização da Vida (CVV), Disk 188, 24 horas, gratuito e sigiloso. Um abraço cheio de ternura e carinho à você que não me abandonou na leitura e chegou até aqui.

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