João Marcos Barbosa marcou sua carreira como professor em Valinhos, e fez muitos amigos através da disciplina de Educação Física
MARCIA DUARTE
Nas entrelinhas da vida sempre tem aquele professor que marca sua época e deixa ensinamentos que perduram pela vida toda. E foi com a intenção de recordar esses grandes mestres, que esta semana o Jornal Terceira Visão entrevistou o professor João Marcos Barbosa, conhecido carinhosamente por seus alunos como “Seu João”.
João Marcos Barbosa se formou em Educação Física na Puccamp em 1974 e, em 1977, concluiu a Faculdade Nossa Senhora do Patrocínio com licenciatura em Pedagogia. Ele atuou por 38 anos como professor de Educação Física, lecionou na Escola Estadual 31 de Março em Campinas, na Escola Estadual Professor Américo Belluomini em Valinhos, nas Unidades SESI 234, 299, 389 e 404 em Valinhos, Escola Estadual Professor Ademar Hiroshi em São Paulo e como professor e diretor da Escola Estadual Professor Messias Gonçalves Teixeira em Campinas.
‘Seu João’ está aposentado há 12 anos como professor e 8 como diretor de escola. Hoje com 70 anos, e não aparentando sua idade, continua praticando atividade física, como caminhada e academia. Ele conta que, atualmente, é Diretor Cultural do Clube Campineiro de Regatas e Natação onde dedica boa parte do seu tempo. Ele ressalta que seus principais hobbies são viajar para visitar seus netos e jogar baralho com o professor e amigo pessoal Petta, mas que a pandemia atrapalhou devido ao isolamento social.
O professor confessou que atuar como professor de educação foi uma realização pessoal e profissional, pois sente que fez o melhor para da formação profissional dos seus ex-alunos. E relembra do contato saudável com os alunos, o respeito que estes tinham com os professores, as brincadeiras, as conversas agradáveis, os campeonatos internos, as Olimpíadas do SESI em Limeira e os Jogos Estudantis de Valinhos.
“Os jogos estudantis de Valinhos faz lembrar-me as brigas competitivas com meu melhor amigo Petta. Quem via pensava que éramos os maiores inimigos, mas quando terminava o jogo, íamos almoçar juntos”, reaviva sorrindo o professor.
“Sinto saudades do relacionamento que tinha com os alunos, de jogar junto, das excursões do 404 para Barra Bonita, do Hotel Fazenda de Atibaia, … Quantos vão se lembrar e recordar!”, complementa.
Até hoje o professor João mantém vivo o relacionamento com os ex-alunos, pelas redes sociais e diz que participa de um grupo do saudoso SESI 299, onde os ex-alunos já são até avós e que todo final de ano se reúne com o pessoal, e estes continuam lhe chamando carinhosamente ‘Seu João’.
Questionado se a educação física nas escolas mudou nos últimos anos, ele afirma que totalmente, haja vista que as aulas eram fora do período de aulas, tinham turmas masculinas e femininas – “Não sei como são as aulas do SESI atualmente, mas na escola que fui diretor a Educação Física foi incluída dentro do período de aula, sem nenhuma estrutura. Imagine um aluno que acaba de fazer educação física e em seguida vai para a aula de matemática, todo suado e sem banho. Imagine a situação”, salienta.
Ao falar de modo geral sobre a educação nos dias de hoje, ele diz: “Vejo a educação de hoje com muita tristeza e preocupação, sou do tempo em que numa cidade pequena as autoridades eram o prefeito, o juiz, o padre e o professor. Atualmente, o professor está tão desvalorizado e tão massacrado pelas autoridades, sendo que a meta prioritária do governo hoje é de quanto menos instrução o aluno tiver menos problema ele vai dar”.
“Antigamente, também, os alunos tinham uma entidade chamada família, que hoje não existe mais”, salientou. Seu João diz que quando era diretor, quase no período de se aposentar, os pais iam na escola buscar algum pertence esquecido pelo aluno, e estes não sabiam a série, não achavam o filho na listagem e pela idade descobriam que não era naquela escola que o filho estudava. Já no período que lecionou no SESI nós professores sabíamos quem eram os pais, eles participavam da vida escolar do filho e respeitavam os professores. E ele deixa uma pergunta reflexiva: “Onde vamos parar?”
João afirma que a educação física antigamente, não por saudosismo e sim pela atualidade dos fatos, ajudava e muito no desenvolvimento, aprendizado e na educação do aluno, mas ele acredita que hoje não. Questionado se incentivaria um jovem hoje a ser professor de educação física, ele disse: “Tenho minhas dúvidas, a situação do professor hoje é muito complicada”.
E se hoje fosse escolher uma profissão, seria professor? Ele respondeu que com certeza, pois sente saudades de dar aula. João ainda complementa dizendo que se sente realizado, que tem certeza que não agradou a todos, mas crê que deu o melhor que pôde e assim encara seu ex-alunos com a certeza que fez o melhor por eles.
As unidades SESI foram concentradas em uma única, e o professor diz que mesmo morando em Campinas quando vem para Valinhos e passa pelos antigos prédios se sente triste e com saudades, pois para ele ali eram casas pequenas, alegres, acolhedoras e onde o respeito e a amizade imperavam. Ressalta, que não existia bullling, a maioria tinha apelidos: Morto, Soninho, Coopersucar, Vermelho, Zé Cantor, Pinga e tantos mais, e para Seu João não era falta de respeito.
João mantém contatos com alguns professores da época, e segundo ele a vida gira, e sente saudades de muitos colegas de trabalho. Ele mantém contato direto com o grande amigo Petta, a professora Vera do 299 e tem tido bastante contato com o Xicão de matemática, que está morando no Rio Grande do Sul. Um mestre que para ‘Seu João’ deixou uma enorme lacuna, foi sem dúvida nenhuma o professor Müller – “Um grande mestre e amigo que se foi há muito tempo e deixou muitas saudades.”, complementou.
“Espero ter deixado uma sementinha em cada aluno, e sei que a maioria brotou. Aqui ficaram muitas saudades, muitas alegrias e a sensação de dever cumprido. Um beijo no coração de todos!”, finalizou o queridíssimo, ‘Seu João’.