Durante minha trajetória trabalhando em escolas, tive colegas que se enquadram nos mais diversos estereótipos sociais do que se imagina ser um professor. Com eles, aprendi a criar minha própria “persona pedagógica” e conheci estratégias interessantíssimas para lidar com os desafios que nos faziam entoar como um mantra “ninguém solta a mão de ninguém”.
Certa feita, discutíamos a terrível “falta de interpretação de texto” dos alunos em uma reunião pedagógica. Cansada de ouvir dos colegas que os pequenos sabiam matemática/física/química/geografia/história, mas não eram capazes de entender o enunciado das questões, fiz meu tradicional discurso dizendo que não dá para jogar tudo nesse balaio. Decodificação? Falta de vocabulário? Dificuldade de relacionar saber teórico com aplicação? Foi então que um genial professor de matemática criou uma ferramenta para testar os alunos: nas instruções da prova ou no meio dos enunciados mais longos, ele inseria mensagens como “desenhe um coração no fim de cada questão para ganhar meio ponto na prova” ou “escreva de cabeça para baixo para dobrar os pontos da questão”. Se eu disser que 5% dos alunos realizava as tarefas, você acreditaria?
Pois é. Quem lê as instruções?
Se você já tentou vender algo na internet, saberá que pouquíssimas pessoas e que o meu colega só comprovou o que todos sabemos.
Assim, ganhei uma nova militância. Hoje, levanto a bandeira aos alunos: antes de fazer uma prova, leia as instruções para tirar uma nota boa. Para ser um dos melhores, leia os manuais do candidato. As informações estão ali. Inclusive, a FUVEST chega a tirar e colocar a instrução “dê um título a seu texto” na prova de Redação para testar os alunos, como fazia meu colega. Há lista de conteúdos, explicações sobre as notas e até mesmo exemplos nesses manuais. Não há grandes segredos, as instruções dizem o que será cobrado e como será avaliado. Há quem leia as instruções e quem acredite que já sabe. Quem será que se sai melhor?