Recordar é viver

O jornalismo sério registra. Marcamos o tempo com fatos, datas, publicações e personagens do dia a dia. É um trabalho coletivo e para a sociedade. Para as gerações atuais e as que virão. Então, neste momento nacionalmente tenso, em plena ebulição da decisão de candidatos à presidência e a governos estaduais, é nosso papel que os últimos anos não entrem para o esquecimento às vésperas da eleição.

“A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”, definiu o escritor Milan Kundera. Pois então, nós como agentes da informação e da história social, não vamos nem esquecer e nem deixar que se esqueçam dos quase 700 mil mortos oficiais da Covid, da propina cobrada por cada vacina que se fez de tudo para atrasar a compra – até vender remédio vermífugo, e tirar máscara de criança em meio à multidão em plena pandemia.

E haja ar para que se possa lembrar da imitação com gente entubada sem anestesia nos hospitais lotados. Todos morrendo de falta de ar, assim como os que morreram sufocados sem oxigênio em Manaus. Que não se perca a conta do pico de 4 mil mortes por dia, dos profissionais da saúde extenuados, nem dos incontáveis hectares de queimadas na Amazônia e no Pantanal. Que não se esqueçamos das catastróficas enchentes enquanto se andava de jet ski.

E haja estômago para se lembrar do cosplay distribuindo bananas em coletiva de imprensa, do “e daí, não sou coveiro”, do “país de maricas”, do “dá que eu te dou outra”, do “só não te estupro porque você não merece”, e mais recentemente, do “pintou um clima”, quando assediou e entrou na casa de meninas pobres de 14 anos.

Lembremos da extravagância usando verba pública com suítes luxuosas nos EUA, com cartões corporativos e os decretos para se ter 100 anos de sigilo sobre o que foi gasto com nosso dinheiro. E as compras extravagantes para o Exército: cerveja, carnes “nobres”, leite condensado, viagra, próteses penianas infláveis… e do “se reclamar gasto mais”, sobre os exorbitantes usos de verba pública em suas férias.

Que não se esqueça do “imbrochável” brochando o bicentenário da Independência, dos seus asseclas desprezíveis desrespeitando Nossa Senhora Aparecida em seu templo, na sua data, das centenas de imóveis, vários deles comprados com dinheiro (nosso) vivo. Dos pobres famintos, culpabilizados e humilhados por quererem comer, viver, estudar e viajar.

Há muito para se lembrar e pouco para se esquecer. E, nós, do país da memória curta, da ignorância e da deseducação, temos o direito de viver. E recordar é viver.

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