Dr. Wilson Vilela é advogado, escritor, autor e professor
No meu último artigo publicado nesta coluna, discorri sobre o significado da palavra “saudade”, tanto em relação à gramática, como em relação aos sentimentos que essa palavra traduz e produz em nossas almas, em nossos corações.
E, hoje, revendo um velho álbum de fotografias, me vejo, com muita saudade, ao lado do meu pai Aurélio e do meu irmão Marcos Antonio, num bote de cedro, muito bem cuidado, no parque do Clube Campineiro de Regatas e Natação, situado em Sousas, o conhecido e mais antigo distrito de Campinas — para quem é da região —, famoso pela conservação de suas ruas de paralelepípedos e casario histórico com bares, restaurantes e lojinhas, sendo procurado nos fins de semana como um grande destino turístico de campineiros e moradores de cidades circunvizinhas.
Todo fim de semana acompanhávamos meu pai, que era um atleta — diferentemente deste escrevinhador, convicto sedentário —, sócio remido do Clube Regatas em razão dos seus feitos, tendo sido, ao lado do igualmente saudoso Ramasco, campeão de natação e de remo. Com meu pai aprendi a nadar no rio Atibaia pelo fato de que, à época em que frequentávamos o parque, ainda não haviam sido construídas piscinas. Também aprendi com ele a remar o nosso bote levantando espuma das águas do rio, coisa de que me orgulho até hoje. Já experiente na condução do bote, tinha a autorização do meu pai para levá-lo, desde a casa de barcos — subindo o rio — até a “praia” que, durante o verão era um ponto de lazer que atraia famílias e amigos, conhecido como a “cachoeira de Sousas”. Aprendi a conhecer os caminhos do rio e a me desviar das pedras, porque o leito do rio era, como é até hoje, bastante pedregoso. E se não tomasse cuidado poderia ter o casco do bote cortado ou encalhado.
Era uma aventura. Pescávamos do bote, normalmente abaixo de uma sacada da fazenda dos Castro Prado. Nadávamos no rio. Depois, almoçávamos no restaurante do parque, onde tínhamos que reservar antes a refeição sob de ficarmos sem o almoço. E, após a sesta, breve período de descanso depois do almoço, subíamos o rio remando até a cachoeira, onde encontrávamos outros botes e amigos de remo.
Saíamos domingo cedinho de Valinhos, de jardineira, nome que se dava ao ônibus do Capelato que nos conduzia, minha mãe Olga, meu pai, meus irmãos Marcos Antonio e Elizabete, e muitas das vezes alguns amigos da minha idade que nos acompanhavam. A jardineira parava em todos os pontos da estrada que, até hoje, está asfaltada apenas até a ponte que corta a rodovia. Dizíamos que a jardineira do Capelato era como coração de mãe: sempre cabia mais um! Seguindo pela Capuava, a jardineira passava a então Fazenda Fontoura, a ponte, o Rancho Saraiva, a fazenda Santa Margarida em direção a Joaquim Egídio, outro distrito de Campinas, para então chegar ao nosso destino em Sousas, onde tinha o seu ponto final ao lado da antiga ponte ferroviária. E comíamos pó à vontade. Era o único incômodo da viagem. Às vezes passávamos mal de tanta poeira que respirávamos. Mas valia a pena. Enfrentávamos esses dissabores com estoicismo porque sabíamos que nos aguardava aventuras certas e ações desejadas desde o início da semana. Sabíamos que ainda iríamos respirar pó na volta. Mas, como eu disse, valia apena. Esperávamos ansiosos pelo fim de semana e pelo que nos aguardava.
Bons tempos. Saudades!…