

Medida inédita eleva tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos; Lula promete resposta baseada na reciprocidade
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, medida com validade a partir de 1º de agosto de 2025. A taxa é a mais alta entre as impostas a 22 países e foi comunicada por meio de carta enviada diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com forte teor político.
O anúncio causou repercussão internacional e preocupação entre especialistas e entidades brasileiras, que consideram a medida uma retaliação ideológica disfarçada de sanção econômica. Trump justificou a decisão com acusações não comprovadas ao governo brasileiro, como supostas censuras a empresas americanas e desequilíbrios comerciais.
Brasil é o país mais atingido entre os 22 notificados
Desde segunda-feira (7), Trump tem enviado comunicados a diferentes países com a proposta de novas tarifas comerciais caso não fechem acordos bilaterais. A taxa mínima estabelecida é de 20%. O Brasil, no entanto, foi o mais atingido, com 50% de sobretaxa sobre todos os produtos, inclusive aço e alumínio.
Confira algumas das tarifas aplicadas por país:
- Brasil: 50%
- África do Sul: 30%
- Filipinas: 20%
- Indonésia: 32%
- Bangladesh: 35%
- Bósnia: 30%
Carta a Lula cita julgamento de Bolsonaro e liberdade de expressão
No documento enviado ao Palácio do Planalto, Trump cita nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), chamando seu julgamento no STF de “vergonha internacional”. Ele também afirma que sua decisão é uma resposta aos “ataques do Brasil contra eleições livres” e à “censura de plataformas digitais dos EUA”, alegando que o STF brasileiro teria imposto medidas ilegais contra redes sociais americanas.
O economista e Nobel Paul Krugman classificou o episódio como “um uso político da política tarifária”. Já o ex-presidente do Banco Central, Alexandre Schwartsman, afirmou que “a carta revela motivação política clara, não técnica”.
Lula reage: “Brasil não será tutelado”
Em resposta pública, o presidente Lula afirmou que o Brasil não aceitará ser tutelado por nenhuma nação. “Somos um país soberano com instituições independentes”, declarou. O presidente também reforçou que a liberdade de expressão no Brasil não inclui agressão ou práticas violentas, e que as empresas estrangeiras devem seguir a legislação brasileira.
Lula também anunciou que o governo utilizará a Lei de Reciprocidade Econômica para responder à medida americana e reiterou que o processo judicial sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira.
Déficit comercial desmente Trump
Apesar de Trump afirmar que a medida busca equilibrar déficits comerciais com o Brasil, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que os EUA têm superávit com o Brasil há 16 anos. Desde 2009, os americanos venderam mais ao Brasil do que compraram, acumulando um saldo positivo de US$ 90,28 bilhões até junho de 2025.
Ameaça ao Brics: tarifa de 10% por fazer parte do bloco
O ataque tarifário a países emergentes também incluiu uma ameaça direta ao Brics. Trump afirmou que os países do grupo – incluindo China, Índia, Rússia, África do Sul e Brasil – sofrerão uma tarifa extra de 10% por fazerem parte do bloco, que, segundo ele, tenta “destruir o dólar como moeda global”.
“O que eles estão tentando fazer é tirar o dólar do centro do comércio mundial. Isso seria como perder uma guerra mundial”, disse Trump.
Lula respondeu reafirmando o compromisso do Brasil com o multilateralismo e a cooperação internacional, e que “nenhum país tem o direito de interferir nas escolhas soberanas do outro”.