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Um vírus

No último dia 11 de março, o mundo completou 4 anos da data em que a OMS caracterizou a infecção respiratória aguda, causada pelo SARS-CoV-2, como pandemia. — A COVID-19.

Eu e minha esposa não estávamos no Brasil, naquela data.

No dia seguinte ao anúncio da OMS, o então presidente dos EUA — Donald Trump — fez crescer o medo e a insegurança no mundo, ao decretar que europeus não poderiam entrar na América. A medida provocou um verdadeiro caos nas companhias aéreas e aeroportos, afetando milhares de pessoas.

Às pressas, deixamos Lion, rumo a Lisboa, onde aguardaríamos 10 dias, até que pudéssemos regressar ao Brasil, num voo já programado.

Encontramos a capital portuguesa deserta, diante da quarentena voluntária dos lisboetas, à qual também aderimos.

Na véspera de nosso voo, recebemos o aviso de seu cancelamento. Felizmente, retornamos ao Brasil, por intermédio de um amigo, que conseguiu nos colocar num voo de outra companhia aérea.

No aeroporto de Lisboa, há dias, outros brasileiros dormiam do lado de fora, sem expectativa de voltarem para o Brasil.

Só embarcamos, naquele dia, porque houve desistências e tivemos a sorte de sermos incluídos entre os passageiros.

O Brasil ainda não fazia nenhum tipo de isolamento.

Os meses de insegurança que se seguiram, transformaram o comportamento mundial.

Faltavam leitos nos hospitais e foi preciso montar estruturas de campanha para abrigar os doentes.

Minguavam profissionais em todas as áreas relacionadas à saúde.

Cemitérios e caixões eram insuficientes.

Faltou oxigênio.

O Brasil alcançou a marca de 693 mil mortos, resultantes da COVID-19.

Pelo resto do mundo, não foi tão diferente e cada nação buscou, a seu modo, enfrentar o SARS-CoV-2.

Perdemos 7 milhões de semelhantes, em todo o planeta.

A ameaça mundial causada pelo vírus, impôs novas posições aos líderes mundiais.

Guerras foram cessadas, em nome da sobrevivência mútua de inimigos e seus povos.

Aqueles dias nos deram certa esperança, mesmo diante de tantas atitudes desumanas de alguns líderes, incluindo o que nos “governava” à época.

Lutávamos por mais médicos; mais hospitais; máscaras; vacinas; oxigênio; túmulos dignos, alimentos etc. Chorávamos por nossos mortos e por tantos que sequer conhecíamos.

Entretanto, aquilo que parecia ser o grande advento catalizador de nossa humanidade, a partir de seu ponto de controle, passou a ser minimizado e retomamos à nossa pequenez.

Hoje, dois grandes eventos bélicos — um na Ucrânia, outro na Faixa de Gaza — nos mostram que nada aprendemos em relação às virtudes humanas. Aliás, creio termos avançado em nossa estupidez.

Se antes brigávamos por mais hospitais, culpando governos por não os terem em número suficiente, hoje, os bombardeamos, destruindo qualquer possibilidade de socorro às vítimas inocentes.

Médicos, enfermeiros, socorristas, bombeiros, representantes da ONU, são mortos a cada segundo.

Mulheres, crianças e tantos outros inocentes são ensacados sem vida e enfileirados aos montes, para serem chorados por seus parentes e amigos, em calçadas e ruas que já não existem mais.

A COVID-19 matou 12,7 mil cidadãos israelenses, 402,4 mil russos, 112,4 mil ucranianos e 5,4 mil palestinos, de acordo com o site worldometers.info.

A guerra imposta pela Rússia à Ucrânia ceifou a vida de 383 mil combatentes ucranianos e 406 mil soldados russos, além de milhares de civis, segundo levantamentos.

O Conflito entre Israel e o Hamas, vitimou mais de 30 mil palestinos e cerca de 1,6 mil israelenses entre soldados e civis.

Enquanto fracos líderes mundiais se reúnem para discutirem a semântica que classificará gramaticalmente as ações de morticínio, geradas nos combates de Israel contra o Hamas e as sanções que se darão sobre a Rússia; sobreviventes da COVID-19 se matam nos campos de batalha, em nome de narrativas estúpidas.

Estamos prestes a testemunharmos outro terror nuclear, enquanto assistimos o mais novo modelo de extermínio de um povo.

O agente Smith — Matrix — estava certo ao descrever nossa espécie: “Um vírus. Os seres humanos são uma doença. Um câncer neste planeta. Vocês são uma praga.”

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