(A presente crônica busca uma breve reflexão tanto sobre o desconforto com a inversão de valores quanto sobre a busca pela autenticidade em tempos de superficialidade)
Vivemos tempos estranhos. O que antes parecia óbvio, como a importância de valores humanos, hoje parece antiquado. A inversão de tudo que era considerado correto se tornou algo tão comum que, assustadoramente, quase todo mundo aceita. Essa é a cara da sociedade atual: um lugar onde o que importa é o material e o ego, onde princípios ficaram para trás.
O que mais me incomoda não é só essa inversão de valores, mas a completa falta deles. Parece que o que guia as pessoas é a busca por si mesmas, pelo “ter”, deixando de lado qualquer preocupação com o “ser”.
A desonestidade virou quase uma qualidade. E quem tenta agir com integridade e ética é visto como antiquado, um peixe fora d’água, diante de uma multidão que se aproveita, que engana, que rouba — e tudo isso com uma tranquilidade assustadora.
Ruy Barbosa estava mais do que certo quando disse: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer as injustiças… o homem chega a ter vergonha de ser honesto.” Esse desabafo dele, lá do século passado, nunca fez tanto sentido como agora. O que era uma crítica se transformou quase num retrato fiel da nossa realidade.
Mas, sabe? Eu prefiro ser visto como antiquado. Não vou mudar meu jeito só para me adaptar a essa nova forma de viver, que não combina comigo, com quem eu sou. Minha essência é outra. Meus valores foram construídos com base em princípios que não quero abandonar.
Não faço questão de me misturar. Prefiro estar em paz comigo, vivendo de acordo com o que me toca a alma. Não me atraem essas superficialidades que têm encantado tanta gente. Estou em busca do que é leve, do que me preenche.
Afinal, a única bagagem que levamos dessa vida é o que somos, não o que temos.