Por Thiago Pontes
“A rosa é sem porque…”, é com esse trecho de um poema que inicio essa nossa reflexão de hoje, pautada na passagem da era moderna para a pós-moderna (a que vivemos), uma passagem onde tudo era previsível e determinado para uma era onde há autonomia e ‘liberdade’, mas tudo tem seu preço, há ônus e bônus. Você me acompanha nessa jornada reflexiva? Muito bem, vamos lá então.
Até o início dos anos noventa, ouso dizer que vivíamos numa época vertical, na qual havia uma previsibilidade na vida das pessoas, havia autoridade dominante, conservadorismo, havia um padrão no qual o homem era quem sustentava a casa, a mulher era responsável pela manutenção e limpeza da mesma, geralmente filhos trabalhavam na mesma profissão dos pais, independente de classe social, tal como filhos e netos de médicos também eram coagidos a sê-lo, enquanto que filhos e netos de agricultores também eram coagidos a sê-lo. Pois bem, não se podia fugir do normal, do padrão, não havia autonomia ou liberdade, o que havia era o dever e a obediência privando-se inclusive a criatividade de cada indivíduo. Enfatizo aqui a busca incessante pela liberdade, que iremos retomar a seguir com o filósofo francês Jean-Paul Sartre.
A partir dos anos noventa houve uma evolução no modo de se viver e conviver, a sociedade que até então era sólida, passa, aos olhos do sociólogo polonês Bauman, a ser vista e interpretada como uma sociedade líquida, onde não há segurança, não há previsibilidade, sociedade esta que substituiu a disciplina pela responsabilidade fruto da liberdade, sociedade essa que substituiu o dever pelas escolhas, e a partir de tal exposição percebemos que a angústia tem ganhado destaque principalmente entre a juventude (digo isso principalmente por ser professor e constatar isso em sala de aula). Deixamos de viver numa sociedade vertical e passamos a viver numa sociedade horizontal, “nivelada”, com maiores oportunidades. A angústia, a indecisão, o tédio, tudo isso é fruto da conquista da tal liberdade, conseqüências já previstas pelo filósofo francês citado anteriormente Jean-Paul Sartre. É como se aos olhos dele, a tal liberdade não fosse tão interessante assim, é como se ela não andasse de mãos dadas com a felicidade ou o sentimento de satisfação.
O que percebo é que de fato o número de opções aumentou, não há mais a necessidade de se seguir uma tradição, há espaço para se expressar, isso é constatado pelas redes sociais, que, diga-se de passagem, são usadas sem tolerância alguma, “cancelando” quem discorde de seus respectivos pontos de vista. A comparação com a vida do Outro têm se tornado fonte de muita insatisfação na qual busca-se a vida perfeita que o Outro supostamente tem, em suas postagens na academia, na praia, sempre com sorriso escancarado no rosto… Não sei se a vida perfeita existe, ou se isso não passa de uma utopia, como sugeriu o filósofo inglês Thomas More, mas tal busca ousada em desmedida pode levar o ser humano a adoecer primeiro psicologicamente e consequentemente com doenças psicossomáticas.
O que posso expor é que a liberdade de hoje, que ainda não é completa, mas maior que na modernidade, trás consigo a responsabilidade de escolher e assumir as conseqüências de determinada escolha sem outorgá-las a terceiros. É como se essa geração pós-moderna não tivesse motivos concretos para existir, é como não tivessem amparo, consistência no que desejam e trocam isso a cada frustração ou decepção que encontram pelo caminho. Vivem por viver… E aqui termino com o poema de um grande poeta polonês Angelus Silesius: “A rosa é sem porque: floresce porque floresce. Não cuida de si mesma nem pede que olhes para ela”. Seria também uma pessoa da nova geração alguém sem ter o porque viver? Abraço.