Parado no semáforo ou andando pelas ruas, não se pode mais evitar eles olhando para você. Nas traseiras dos carros chamam sua atenção. Em ‘wind banners’ surfam o momento de eleição.
Como Monalisas fora do Louvre, mas dentro de um “museu de grandes novidades”, como cantou o poeta Cazuza, sorrisos não tão enigmáticos tentam te cativar e te demonstrar algum valor por seu voto.
Lisos, esteticamente cuidados com caros procedimentos de harmonizações e preenchimentos faciais, colocando botox, ácidos, óleo de peroba e afins, ficam parecendo bonecos e bonecas de expressão fixa.
Toda essa lisura indefectível ainda passa, de forma meticulosa, por adequações digitais como contraste de cores, e correções de qualquer “imperfeição” com Photoshop, filtros e demais maquiagens virtuais que, claro, nunca correspondem à verdade.
E é claro que a falta desta verdade não se limita à forma que o estético dos candidatos se apresente. Ao contrário. Os belos sorrisos lisos são um consequente reflexo de seus rasos discursos concisos.
É a moda, ditada por redes sociais, algoritmos, aceleração e saturação do explícito. Tudo precisa ser como um fast food: engolido de forma facílima e consumido muito rapidamente. Sem pensar, sem digerir. Só curtir e deslizar.
Prevista por sociólogos como Zygmunt Bauman, e atualizada por filósofos como Byung-Chul Han, a liquidez superficial fugaz e automatizada da sociedade atual.
E quem nunca ouviu falar dos citados acima, mas segue coachs do tipo Pondé, Marçal e afins, é exatamente o alvo fácil, passivo e inócuo de imagens simpáticas modeladas e mensagens ufanistas e falaciosas.