Dentre inúmeros bons diretores de cinema, o britânico Christopher Nolan, 53, é um dos que compõem este grupo, na minha mais modesta opinião. Então, sempre que posso, assisto a seus filmes, com a maior atenção possível às camadas que possuem e que o fazem brilhar, na chamada “Sétima Arte”, — termo cunhado pelo intelectual italiano Ricciotto Canudo, em o “Manifesto das Sete Artes”, escrito em 1911 e publicado em 1923.
O mais recente filme de Nolan, “Oppenheimer”, — 13 indicações ao Oscar deste ano, inclusive o de melhor Direção — é mais uma de suas obras de arte e vale a pena ser visto.
Contudo, não falarei sobre o Cinema, nem sobre a filmografia de Nolan, mas como a sua arte é capaz de nos fazer enxergar mais claramente o mundo em que vivemos e que ainda viveremos.
Dentre os grandes filmes que o londrino Christopher Nolan fez, como Insônia, 2002; a trilogia de Batman; — Begins, 2005; O Cavaleiro da Trevas… 2008 e 2012 — Interestelar, 2014, e outros, é em “Inception”, 2010, — A Origem, no Brasil — que busco explorar, ao lado de “Oppenheimer”, questionamentos sobre nosso futuro e o que nos empurra para lá.
Em “Oppenheimer”, o que mais me fascinou não foram as questões da física quântica, nem a beleza da matemática ou a capacidade científica humana, mas em lugar disto, e para além da cinematografia, as características de seus personagens, em especial, seus egos infinitos em colisões atômicas, impossíveis de serem mensuradas pelas ciências exatas.
O filme de Nolan retrata Oppenheimer — interpretado por Cillian Murphy — como alguém incapaz de abandonar o projeto de construção da primeira Bomba A, que seria usada como arma definitiva contra milhares de japoneses, já no fim da Segunda Grande Guerra, em função de sua profunda vaidade.
Oppenheimer foi até o fim, com o Projeto Manhattan, mesmo sabendo que havia uma chance — “próxima de zero”, mas não desprezível — de acabar com o mundo, numa incontrolável reação em cadeia, capaz de incendiar nossa atmosfera e pôr fim a toda forma de vida que dela depende. Sua obra resultou nos bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagazaki, com suas milhares de mortes e demais efeitos nefastos à vida, num dos maiores e mais abjetos atos de nossa insensatez.
Em “Inception”, Nolan nos mostra um grupo de golpistas que tramam suas ações, para agirem no inconsciente de suas vítimas através da arquitetura de sonhos compartilhados, por meio de injeções químicas em seus organismos. Durante o sono induzido de suas vítimas, agem em busca de segredos ocultos a serem extraídos, num roteiro onde o protagonista — interpretado por DiCaprio — questiona se a sua própria realidade não é um sonho lúcido.
Nesta semana, o bilionário Elon Musk anunciou que o primeiro implante de chip cerebral do mundo, — o “Telepathy” — feito por sua empresa, “Neuralink”, foi realizado com sucesso em um ser humano. De acordo com Musk, o dispositivo permitirá que humanos controlem equipamentos eletrônicos, via Bluetooth, como celulares, computadores etc.
As justificativas de Elon Musk, para buscar o desenvolvimento desta tecnologia, parecem tão nobres, quanto as primeiras defesas que Oppenheimer fazia, ao dizer que sua Bomba A, seria um mecanismo de controle das guerras, pela simples existência, ainda que não fosse utilizada. Como se uma bomba fosse um talismã da Paz.
Em outra matéria, que li esta semana, a Startup “Prophetic”, está desenvolvendo uma IA — Morpheus-1 — que segundo a empresa será capaz de induzir e estabilizar sonhos lúcidos, permitindo que uma pessoa possa trabalhar, enquanto sonha, utilizando uma espécie de halo na cabeça, o qual estará programado para induzir o inconsciente dos “trabalhadores”, para que desenvolvam programas de computação e outras tarefas, durante o “repouso”. — Já consigo ver pessoas defendendo a ideia, dizendo que assim conseguirão mais dinheiro, sucesso e felicidade, pois ampliarão suas capacidades produtivas.
Como podem ver, a “Sétima Arte”, nos faz refletir sobre nossas humanidades e nossos dilemas éticos, tão voláteis.
Sempre que nos deparamos com os grandes problemas humanos, nossa criatividade e nossas ciências buscam uma saída genial, que nos tem assegurado a continuar nossa epopeia. Ocorre que, em geral, nossos maiores problemas são frutos de nossa “genialidade”, na busca de nossa própria sobrevivência. Somos mestres da criação de problemas futuros. Bombas atômicas; de Hidrogênio; chips cerebrais; halos de sonhos induzidos, IA etc.
Mas antes que digam que estou sendo apocalíptico demais, conto que fiquei bastante animado com a notícia que li, há poucos dias, onde o chatbot, alimentado por IA, da empresa DPD — especializada em serviços de entrega de encomendas — ao não conseguir atender a demanda de um de seus clientes, passou a falar mal da própria empresa, incluindo palavras de baixo calão, a ponto de ser desativado pelos proprietários.
Eu espero que nós mesmos, sem auxílio de qualquer IA, sejamos capazes de reagirmos a tempo, mas se isto não acontecer, que alguma “inteligência” artificial nos salve, pois precisamos, desesperadamente, de uma boa direção, ou nossa espécie nunca ganhará um Oscar.