

Em um gesto que sinaliza a busca por distensão com a Coreia do Norte, o novo presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, iniciou nesta segunda-feira (4) a remoção dos alto-falantes que há anos emitem mensagens de propaganda anti-Pyongyang ao longo da fronteira entre os dois países. A decisão, anunciada pelo Ministério da Defesa de Seul, foi classificada como uma “medida prática” para aliviar tensões sem comprometer a postura militar da Coreia do Sul. Segundo o governo, não houve discussões com o Exército norte-coreano antes da medida, e não está claro se os equipamentos poderão ser reinstalados no futuro, caso os atritos voltem a escalar.
A Coreia do Norte, conhecida por sua sensibilidade extrema a críticas externas, especialmente à figura de seu líder Kim Jong-un, não se pronunciou sobre o gesto. No entanto, o histórico recente é de hostilidade. Em junho, Seul havia retomado as transmissões propagandísticas após Pyongyang lançar quase mil balões cheios de lixo sobre seu território. A irmã do ditador norte-coreano, Kim Yo Jong, chegou a criticar duramente a “confiança cega” da Coreia do Sul em sua aliança com os Estados Unidos, reforçando que o governo de Lee Jae Myung não seria muito diferente do de seu antecessor, Yoon Suk Yeol, atualmente preso por tentativa de golpe e alvo de impeachment.
Apesar do silêncio oficial de Pyongyang, o gesto de Seul tenta reverter o congelamento das relações entre os países, que se agravaram nos últimos anos com a intensificação do programa nuclear norte-coreano e a aproximação militar entre Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão. Os alto-falantes ao longo da zona desmilitarizada eram usados para transmitir desde músicas K-pop até notícias sobre a democracia e a economia capitalista sul-coreana, podendo ser ouvidos a mais de 20 quilômetros dentro do território norte-coreano.
A campanha de som, herança da Guerra Fria, funcionava como uma ferramenta psicológica e, embora interrompida várias vezes ao longo das décadas, sempre foi retomada em momentos de crise. Com a desativação dos alto-falantes, o novo governo sul-coreano envia um sinal de que está disposto a reduzir tensões e abrir canais diplomáticos com um vizinho que, apesar da retórica agressiva, permanece tecnicamente em guerra com o Sul desde os anos 1950.