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Descoberta de “Vira-mundo” reflete sobre as dores da escravidão em Valinhos

Objeto utilizado para torturar escravizados foi tema de artigo da Associação de Preservação Histórica de Valinhos

Na Fazenda Santo Antônio da Cachoeira, nos limites da Serra dos Cocais, um importante capítulo da história de Valinhos e do Brasil foi revelado. Durante uma visita em 14 de abril, o diretor social e pesquisador da Associação de Preservação Histórica de Valinhos, Bryan Gouveia, fez uma descoberta impressionante: um “Vira-mundo”, uma algema usada para punir pessoas escravizadas na fazenda Santo Antônio da Cachoeira. Essa relíquia histórica foi doada para a Associação de Preservação da História de Valinhos (APHV) pelo atual proprietário, conhecido como Bob. A visita dos membros da APHV à fazenda faz parte do projeto “Café em Valinhos”.

O “Vira-mundo” não é apenas um objeto simbólico; ele representa uma imersão na história da escravidão em Valinhos. Esse artefato extremamente raro deverá ser incorporado em breve ao acervo do Museu Municipal, tornando-se o único item relacionado à temática da escravidão no museu.

A história por trás dessa descoberta é fascinante. O “Vira-mundo” foi encontrado no porão da tulha da fazenda em 2002 por Victor Lange, filho do atual proprietário. Ele permaneceu guardado na sede da fazenda por mais de duas décadas, até a visita representativa da APHV neste ano.

A Fazenda Santo Antônio da Cachoeira, também conhecida como Fazenda do Manga, remonta ao século XIX. Em 1885, pertencia a Antônio de Araújo Roso e era famosa por seus 80 mil pés de café, cultivados com mão de obra escravizada até a abolição em 1888. No ano da Abolição da Escravatura, conforme relatado por um jornal da época, ficou registrado que Antônio de Araújo Roso deu baixa em 19 matrículas de escravizados na cidade de Campinas, porém sabe-se que aconteciam fugas de pessoas escravizadas da fazenda.

Hoje, a propriedade é mantida pelos descendentes de T.M. Lange, que a adquiriu a fazenda no início do século XX. Eles a alugam para ensaios fotográficos (para mais informações, visite o Instagram: @santoantonio_cachoeira). Segundo o pesquisador Bryan Gouveia, a fazenda é uma das mais bem preservadas do século XIX em toda a cidade, e sua história, tanto material quanto oral, revela detalhes importantes sobre o passado de Valinhos.

Além da confecção de levantamentos históricos das antigas fazendas de café da cidade, uma das vertentes do projeto “Café em Valinhos” concentra-se na busca por itens do período colonial e imperial da cidade, como o “Vira-mundo”, para serem doados ao Museu Municipal (para mais informações sobre o projeto, visite o site: https://historiavalinhos.com.br/). Esses “Vira-mundos” são raros de encontrar devido à destruição das senzalas e de outros itens relacionados à escravidão ao longo dos anos na Capital do Figo Roxo. A doação do “Vira-mundo” representa um marco significativo no esforço contínuo de preservação histórica.

Enquanto Valinhos se prepara para rememorar o Dia da Abolição da Escravatura em 13 de maio, a Fazenda Santo Antônio da Cachoeira nos recorda da importância de confrontar e compreender nossa história, mesmo quando seus aspectos são dolorosos.

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