Os principais sintomas englobam a perda de memória e habilidades adquiridas, além da incapacidade de aprender coisas novas
Gabriel Previtale
Em uma esclarecedora entrevista, a Dra. Beatriz Vieira Caputo, renomada neurologista do Departamento de Neurologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), abordou a complexidade da doença de Alzheimer e discutiu abordagens terapêuticas inovadoras para lidar com essa enfermidade que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
A doença de Alzheimer é uma patologia cerebral degenerativa e a forma mais comum de demência. A Dra. Beatriz explicou que essa doença se manifesta lentamente e progride ao longo do tempo, sendo a perda de memória a curto prazo o sintoma mais evidente. Com o avanço da doença, outras habilidades cognitivas, como linguagem, orientação espacial e capacidade de resolver problemas cotidianos, também são comprometidas, devido aos danos causados às células nervosas e suas conexões.
Os principais sintomas englobam a perda de memória e habilidades adquiridas, além da incapacidade de aprender coisas novas. Para uma melhor compreensão, a doença é dividida em três estágios: inicial, intermediário e avançado, com base no comprometimento cognitivo e no grau de dependência em relação a terceiros.
A entrevistada destacou que, embora 5% dos casos de Alzheimer tenham uma causa genética identificável, a grande maioria, ou seja, 95%, possui causas ainda não totalmente esclarecidas. Fatores como exposição ao fumo, poluentes, metais pesados, traumas cranianos, diabetes, hipertensão e infecções do sistema nervoso podem estar envolvidos no desenvolvimento da doença.
O diagnóstico da doença de Alzheimer envolve uma variedade de abordagens, incluindo exames genéticos, análises do líquido cefalorraquidiano e exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, além de cintilografia para avaliar o metabolismo cerebral. No entanto, a Dra. Beatriz enfatizou que a obtenção de um diagnóstico preciso requer uma avaliação 360, incluindo a história do paciente, exame físico e neurológico, bem como o exame neuropsicológico.
A abordagem padrão de tratamento da doença de Alzheimer envolve o uso de medicamentos anticolinesterásicos, que têm o objetivo de fortalecer a transmissão sináptica e manter a funcionalidade das vias neurais, auxiliando na preservação das habilidades cognitivas. A especialista ressaltou que tratamentos mais recentes, como anticorpos monoclonais, têm demonstrado promissores resultados. Estes podem ser combinados com terapia ocupacional, fisioterapia e estímulos cognitivos.
É essencial promover atividades de lazer, como música, esportes, dança e artes plásticas, além de demonstrar sensibilidade para não sobrecarregar o paciente com demandas além de sua capacidade.
A Dra. Beatriz enfatizou a importância de manter um estilo de vida saudável, que inclui aprendizado contínuo, leitura, atividades culturais, estudo de línguas estrangeiras, hobbies, exercícios regulares, dieta balanceada e controle de fatores de risco, como pressão arterial, peso e estresse. Evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool e outras drogas também é crucial.
Conforme a doença avança, os pacientes com Alzheimer se tornam progressivamente mais dependentes dos cuidadores. No início, é necessário paciência e comunicação assertiva. À medida que a doença progride, os cuidadores podem ter que assumir tarefas mais complexas, como auxiliar nas atividades diárias básicas. A Dra. Beatriz observou que os cuidadores devem estar preparados para enfrentar desafios, incluindo distúrbios de humor, depressão e agressividade por parte dos pacientes. Profissionais de saúde podem oferecer apoio e, quando necessário, tratamento medicamentoso para esses sintomas.
A entrevista terminou com uma nota de otimismo, já que a pesquisa continua avançando na busca por tratamentos mais eficazes para a doença de Alzheimer. Anticorpos monoclonais, direcionados à proteína beta-amiloide, representam uma das promessas mais recentes no campo do tratamento da doença.