Poluição, ondas de calor extremo, derretimentos das geleiras, falta de chuva, desmatamento, longos períodos de estiagem, oceanos com febre
Por Samuel Garbuio
“Esse calor insuportável não abranda o frio da alma. A vida já não é tão segura e nada mais lhe acalma. Ôh, crianças! Isso é só o fim. Isso é só o fim”. A música “Só o Fim”, que abre o lado B de ‘Correndo o Risco’, terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Camisa de Vênus, lançado em 1986, tem letra apocalíptica e atemporal. Que bom seria se fosse apenas arte, que não imita a vida. Mas o que vemos hoje é um declínio sem precedentes do meio ambiente, uma destruição em curso e praticamente completa do nosso planeta.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 159.411 focos de incêndio de janeiro até a última segunda-feira, 9. Um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023. A umidade do ar está mais baixa do que no deserto do Saara e quase 60% do território brasileiro está sofrendo com a fumaça das queimadas. Mas para além das queimadas, o que estamos fazendo com o nosso planeta e por quê? Poluição, ondas de calor extremo, derretimentos das geleiras, falta de chuva, desmatamento, longos períodos de estiagem, oceanos com febre. Danos irreversíveis para o meio ambiente e o ser humano.
O aquecimento global não é mais uma ameaça, ele é real, está acontecendo e trazendo profundas mudanças climáticas, que deixam as estações do ano confusas. Tudo isso coloca em risco a nossa vida, dos animais e do nosso planeta. Não é de hoje que o planeta pede por socorro. A ação humana e irresponsável está destruindo o planeta Terra, aos poucos, lentamente. Estamos próximos do fim. É o que parece. Em alguns locais, que sofreram ou que estão sofrendo com as queimadas, a natureza não consegue mais se recuperar sozinha. Os danos são irreparáveis e irreversíveis.
Enquanto assistimos ao meio ambiente acabando aos poucos, respiramos fumaça. Enquanto ficamos sabendo de animais indefesos que morreram com as chamas, com a fumaça, pelo estresse causado pelo caos, tamanho desespero de não saberem como fugir do fogo, ou ainda sedentos e famintos em busca da ajuda que não chegou a tempo, nós choramos e nos entristecemos por ver o que estão fazendo com o nosso mundo, a nossa casa. Se nos sentimos impotentes diante da destruição, como cidadãos que não conseguem lutar contra a gana dos poderosos, imagina para esses animais, vítimas indefesas da maldade humana, como é existir em um planeta que está morrendo aos poucos.
Nem o nosso sol, símbolo de esperança, reluz como antes, pois tem sido ofuscado pela fumaça que cobre os céus. A qualidade do ar que respiramos hoje está comprometida. Estamos respirando gases tóxicos das queimadas, como o monóxido de carbono e o PM 2.5, que são partículas de poeira minúsculas, que ficam suspensas no ar. Esses gases podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares graves e agravar doenças respiratórias, dado que essas partículas conseguem penetrar nos nossos pulmões.
Se um dia a Amazônia foi o pulmão do mundo, se um dia tivemos orgulho da natureza exuberante do nosso país, rico em biodiversidade, abrigo de diversos biomas, o que sobra hoje é tristeza e desesperança. As motivações para os inúmeros incêndios que atingem o país, de maneira orquestrada e criminosa, sabemos, são inúmeras. Já o que vamos fazer diante do caos instaurado e da destruição implacável, não fazemos mais ideia.