André Ribeiro Torres ressalta importância de diagnósticos, da aceitação, inclusão e necessidade de políticas públi
Por Bruno Marques
Em 2 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo. Para falar sobre o tema, esta reportagem entrevistou André Ribeiro Torres. Ele é graduado em Psicologia e em Filosofia. Mestre em Psicologia e doutorando em Educação, o profissional trabalha com clínica há quase 25 anos, desde 2002, é professor universitário, e fundador da Torres Psicologia.
Como se origina o espectro autista?
Não se sabe muito bem a origem do espectro autista. Há uma grande compreensão sobre a carga genética de 30 a 84% de transmissão por genes.
Tem também havido estudos sobre a influência do meio, do ambiente, no sentido químico, na configuração genética propícia ao desenvolvimento do espectro autista. Por exemplo, casos de exposição a determinadas substâncias como o ácido valpróico.
O impacto de alimentos transgênicos e uso de agrotóxicos também estão sendo investigados no desenvolvimento do espectro autista. E, se comprovados, haverá ainda mais casos.
Quais as principais diferenças entre autismo e TDAH?
Ambos são transtornos do neurodesenvolvimento e têm aspectos em comum. Porém, os critérios diagnósticos e características principais têm apresentação diferentes. E a presença de um não elimina a do outro. É comum, inclusive, que as pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA) também demonstrem Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Sobre as diferenças, os critérios do TEA são relacionados às dificuldades de comunicação social e comportamentos restritivos e repetitivos, o que traz muitas dificuldades de socialização.
O TDAH está ligado a dificuldades relacionadas ao funcionamento da atenção (dificuldades de se concentrar, “desliga” a atenção de vez em quando ou não conseguir sair de um determinado foco, por exemplo) e à agitação da pessoa acima da maioria da média da população, que é a hiperatividade, ou seja, uma pessoa que não consegue ficar parada por muito tempo, interrompe as atividades, se mexe, levanta, pausa o que está assistindo várias vezes, fala por bastante tempo, tem comportamento impulsivo, ou seja, fala ou age sem pensar.
Em 2 de abril é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Como você vê a importância da discussão desta pauta?
Há diferentes perspectivas para esta pauta. Na perspectiva psicológica, há busca pela saúde mental. Ao ter um diagnóstico, a pessoa consegue se entender melhor, compreender seu funcionamento e como adequar isso ao seu dia a dia. E pela condição ser de origem biológica, o diagnóstico ajuda na auto aceitação.
Então, existencialmente, a importância do TEA é a busca de uma autenticidade. Ser quem você é. Não tentar ser quem você não é. Ninguém deve ser padrão e ficar com sentimento de inadequação.
Do ponto de vista político, é muito importante que essas pessoas sejam conscientes dos seus direitos. Por fim, pela perspectiva social, contribuímos para uma sociedade mais inclusiva, mais acolhedora, e que aceita as pessoas como elas são. Isso é uma questão civilizatória.
O autismo tem virado ‘bandeira’ de mandatos cujos representantes não necessariamente buscam justiça social e equiparação de direitos.
Como evitar que uma questão crescente de saúde mental, que deve ser tratada com seriedade profissional e ação do poder público, vire um nicho de oportunismo de politicagem?
Essa é uma questão bastante pertinente. Há um grande interesse político e econômico na exploração de autistas que se tornou uma “indústria” no mundo inteiro.
Existem abordagens que têm contribuído muito para essa violência e objetificação de pessoas com espectro autista como fonte de renda muito grande. É um nicho onde já existe bastante politicagem ativa.
O que precisamos é de fiscalização e regulamentações para que os benefícios sejam aplicados em políticas públicas. É um desafio e estamos nessa batalha.