“Quando o segundo sol chegar / Para realinhar as órbitas dos planetas / Derrubando, com assombro exemplar / O que os astrônomos diriam se tratar, de um outro cometa.
Não digo que não me surpreendi / Antes que eu visse, você disse, e eu não pude acreditar…”
Nando Reis escreveu “O Segundo Sol”, por volta de 1997. Ele conta que ao refletir sobre sua postura cética, baseada em conhecimentos científicos, foi jocoso com uma amiga que o havia surpreendido com sua crença de que um segundo sol — Nêmesis; uma suposta estrela anã ligada ao nosso astro rei — chegaria para redefinir nosso velho sistema solar, aparentemente previsível em seus movimentos gravitacionais bem equilibrados.
A canção foi composta, não como um pedido de desculpas à amiga, mas como resultado de sua reflexão em relação às fés de cada indivíduo.
A composição foi incluída no álbum “Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo”, 1999, de Cássia Eller, indicado ao Grammy Latino, na categoria de “Melhor Álbum de Rock Brasileiro” e tornou-se mais um de seus inúmeros hits.
Um dos mais novos sucessos da Netflix é a série “O Problema dos 3 Corpos”, título do primeiro livro da trilogia “Remembrance of Earth’s Past”, iniciada em 2006 e concluída em 2010, do escritor chinês Liu Cixin.
Na ficção de Liu Cixin, uma civilização alienígena que habita um sistema caótico, com três sóis, parte para a Terra, em busca de salvação, após uma mensagem recebida a partir de uma estação de rádio do governo chinês.
Nossas principais leis da física, relativas aos movimentos dos corpos baseiam-se nos “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, 1687, de Sir Isaac Newton e que até hoje são capazes de calcular, explicar e preverem os movimentos dos corpos celestes em interações binárias, sem muitos problemas. Entretanto, a entrada de um terceiro corpo, no que a ciência denomina de “valsa orbital”, passa a ser imprevisível, diante de novas dinâmicas gravitacionais mútuas.
A matemática de Newton, somada a de Kepler e outros, nos permite cálculos bastante suficientes sobre nosso sistema e outros que observamos pelo universo. Conseguimos prever com grande segurança no tempo, os movimentos binários entre a Terra e o Sol, ou a Lua e a Terra etc., mas imaginem se houvessem três estrelas em nosso sistema, cada qual nos atraindo e repelindo com suas forças e exercendo a mesma dinâmica sobre os demais planetas e luas que o compõem.
Na canção de Nando Reis, ainda que para “assombro exemplar”, com dois sóis, as órbitas planetárias seriam “somente” realinhadas. Mas como pensar em três?
As questões atinentes à astronomia, à física newtoniana, ou de Kepler, Galileu e de outros são, por vezes, complexas demais. Com isso, passei a transportar o problema para nosso “simples” dia a dia.
Imaginei a existência de um único ser humano. Um astro isolado num universo infinito, sem nada para interferir em sua gravidade, a qual nem sabia possuir, dado que nunca fora atraído ou repelido por nada. Nunca colidiu com nada, nem destruiu ou foi destruído. Um ser absoluto, por conseguinte, dono de si e de tudo.
Eis que surge, então, outro astro — que julgava ser tão único quanto seu par e ambas as forças começam a disputar um espaço no infinito. — Mesmo com tanto infinito disponível, os dois passam a pleiteá-lo, ainda que sob o risco de colidirem e virarem pó. Talvez apenas se repilam para sempre ou quem sabe, consigam equacionar seus movimentos e valsar num equilíbrio dinâmico eterno.
Mas surge um novo astro, que encontra os dois anteriores, cruza suas órbitas, seus espaços, movimentos.
Pense, então, que não apenas este terceiro astro interfira neste sistema, mas outro e mais outro e que já somem 8 bilhões de corpos em movimento, neste universo.
Tais astros suporiam, talvez: O universo está ficando pequeno demais em sua infinitude. Há pouco espaço, por aqui e falta ar.
Caoticamente, colidiriam com muitos; repeliriam outros; atrairiam alguns menores, na tentativa de aumentarem suas forças, mas ficariam tão massivos que se tornariam opressivos e sem luz.
Ah, sim! Eu quase me esqueci que já não falava de corpos celestes, mas de humanos inteligentes, que encontrarão uma equação para esse problema de 3 corpos ou mais, não é?
De minha parte, vou ali fora para ver os sóis e a vida que arde sem explicação.