Perseverança e dedicação: A história de Dino Celani

A trajetória de imigrantes pioneiros no empreendedorismo que compõe a história da comunidade valinhense

A história de Valinhos não poderia ser contada sem mencionar o legado do italiano Ferruccio Celani, fundador da primeira fábrica de papelão do município e grande responsável pelo desenvolvimento da economia local. Sendo assim, o Jornal Terceira Visão realizou uma entrevista com Segismundo Romano José Celani, conhecido carinhosamente como Dino Celani, que estava com 95 anos e ainda participava das decisões da empresa fundada pelo seu pai. Ele faleceu na noite desta terça-feira, dia 6.

Sr Dino Celani em entrevista concedida em sua residência no dia 19 de maio de 2023
Dino Celani em entrevista concedida em sua residência no dia 19 de maio de 2023

Ele concedeu entrevista ao Jornal Terceira Visão no dia 19 de maio e contou que seu avô veio da Itália, era militar e, com o fim do século e a penúria vivenciada no país, resolveu migrar para o Brasil. Ele montou um hotel em São Paulo, que não teve sucesso, e decidiu enviar a família de volta para Roma enquanto ele buscava oportunidades em Belém do Pará. Na época, a avó de Dino, junto com alguns amigos, pegou um barco conhecido como paquete e viajou para Manaus com o objetivo de montar uma confeitaria. O sonho surgiu devido à construção do magnífico teatro em Belém do Pará, realizado pelos Barões da Borracharia, e seria um excelente negócio empreender em uma confeitaria próxima a esse ponto cultural.

O pai de Dino, Ferruccio Celani, chegou a São Paulo e trabalhou na área de construção e em um ateliê fotográfico, onde se interessou pelas artes e estudou desenho no Liceu de Artes e Ofícios, que atualmente funciona como a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Quando começou a ter uma folga financeira, ele começou a investir em quadros e chegou a ter uma coleção com mais de 300 obras. Quando a situação melhorou, a família Celani comprou uma chácara em Valinhos, interior de São Paulo, onde cultivavam árvores frutíferas. Na época, possuíam 4.000 viveiros, 800 figueiras, 70 pereiras e 70 mangueiras.

Ferruccio Celani trabalhava em uma empresa de papel em São Paulo, que era de propriedade do capitalista Conde Ceciliano do Rio de Janeiro e do Barão de Vasconcelos. Iniciaram, portanto, as melhorias no imóvel e foi quando o pai de Dino conheceu uma cerâmica, que pertencia a seu Horácio, que estava atravessando a crise de 29 e por este motivo a área estava sendo vendida. Foi então, que seu Ferruccio achou o local para fundar a fábrica de papelão compacto no município, hoje conhecida como Cartonifício Valinhos.

Dino Celani, em entrevista concedida em 2016 ao Jornal Terceira Visão
Dino Celani, em entrevista concedida em 2016 ao Jornal Terceira Visão

Portanto, a luta começou em 1934, quando Ferruccio Celani comprou a área da cerâmica, com a ajuda de empréstimo junto ao seu pai, irmã e cunhado, pois não tinha recursos. Comprava ferro velho, aqui e ali, e conseguiu montar a fábrica. Porém, exaurido de recursos e sem capital de giro, arrendou a fábrica por um período de 10 anos, e assim surgiu a primeira fábrica de Valinhos, pioneira e fortalecida a cada ano de sua história.

Dino Celani, filho de Ferruccio, conta que estudou fora por um longo período e, durante muito tempo, conduziu o escritório da fábrica diretamente de São Paulo. Mas adotou Valinhos desde sempre e afirma que Valinhos é sua vida. Dino Celani conta que a família sempre esteve presente nas ações da igreja de São Sebastião, que ele frequentava muito a ferrovia por conta de despachar as frutas.

Ele ainda lembrou, durante a entrevista, da Avenida 11 de agosto que no período tinha a adutora que vinha de Vinhedo e ia para Campinas, que foi motivo de grandes discussões na época da emancipação, mas que o prefeito Arildo conseguiu resolver as questões e ficou para Valinhos. “Não tinha Avenida dos Esportes e a gente brincava nos tubos da adutora da avenida 11 de agosto. Tempo bom!”, acrescentou.

Rafaela Duarte e Dino Celani durante a entrevista realizada em 19 de maio de 2023
Rafaela Duarte e Dino Celani durante a entrevista realizada em 19 de maio de 2023

Dino Celani se emocionava a cada lembrança, como os bons tempos do campo de futebol do Clube Atlético Valinhense onde hoje é a rodoviária, local que chegou a coroar a rainha dos trabalhadores, dos bailes que aconteciam aos sábados e domingos na cidade e de quando frequentava com sua família a igreja velha, antes da demolição e construção da Matriz de São Sebastião.

Quanto à emancipação, Dino Celani acompanhou e apoiou, porém não participou das lutas, pois o cenário foi conduzido por dois blocos: os “paragatas” e “gravatinhas”. Quando estudava em São Paulo, ele participou ativamente dos protestos contra Getúlio e se engajou no partido União Democrática Nacional, que tinha como candidato o Brigadeiro Eduardo Gomes, pelo qual ele fez muita campanha.

Em 2015, Dino Celani foi à sede do Jornal Terceira Visão
Em 2015, Dino Celani foi à sede do Jornal Terceira Visão

Retomando a história do Cartonifício Valinhos, a fábrica foi uma das primeiras recicladoras de papel do Brasil e, depois de muitos anos, o mercado de papel reciclado se tornou um auge no mercado. Hoje, a empresa trabalha com papel, chapas de papelão e caixas, contando com aproximadamente 240 funcionários, entre contratados e terceirizados, e já atua no mercado há 88 anos. São mais de 2.000 colaboradores que já passaram pela fábrica e seguiram sua história.

A empresa se orgulha, segundo Dino Celani, por apoiar e patrocinar eventos culturais, esportivos e sociais da cidade, e ele se sente muito feliz em proporcionar tudo isso para a população de Valinhos.

Dino Celani em outro momento captado pelas lentes de Aloysio Moraes
Dino Celani em outro momento captado pelas lentes de Aloysio Moraes

Outra lembrança que tem, que conta como contribuição da família Celani, com o impulso do Cartonifício Valinhos e a presença do Padre Bruno Nardini, aconteceu em 1949, época em que morreu o escritor Monteiro Lobato e sua avó Maria Antônia Celani. Dino Celani conta que o dono das mídias, na época, Assis Chateaubriand, era amigo de Cândido Fontoura (Tio Candinho), dono das propriedades de terra que beirava a Rodovia Dom Pedro, e que juntos iniciaram a Campanha de Redenção da Criança no Brasil. Na ocasião, a família Celani doou um terreno para a fundação de um posto de puericultura na Rua Itália, onde atualmente funciona a Secretaria de Cultura de Valinhos.

Dino foi presidente por duas vezes da Associação de Proteção à Infância de Valinhos, que era uma entidade da igreja, e também presidente da Associação Italiana de Valinhos, na época do Brasil 500 anos, onde, por meio do Cartonifício, proporcionou à cidade de Valinhos diversas exposições e atrações culturais.

O Cidadão Honorário de Valinhos, Dino Celani, é pai de Patrícia, Maria Gabriela, Alessandra e Fernando, tem 8 netos e está casado há 58 anos. “Conheci minha esposa em uma viagem que fiz para a Europa, com a qual casei em Málaga, na Espanha, que fica na região da Andaluzia, e estamos casados há 58 anos. Algo raro nos dias de hoje”, contou emocionado.

Apesar de sua idade avançada, Dino ainda mantém uma rotina ativa. Ele começa o dia um pouco mais tarde, desfruta do sol em seu jardim e, ocasionalmente, visita a fábrica nos finais de semana, já que sua condição física não permite ir todos os dias. Além disso, ele dedica tempo à leitura, assiste televisão, especialmente canais espanhóis, e cuida de suas orquídeas. Sempre que possível, ele faz passeios para desfrutar da vida.

Ao ser questionado sobre o significado do empreendedorismo, Dino enfatiza que nem todos possuem essa habilidade. Ele compartilha um conselho valioso para os jovens empreendedores: estudar incansavelmente e ter muita determinação. Esses são os pilares que o guiaram em sua jornada de sucesso. A história de Dino Celani e sua família é marcada por contribuições significativas para a comunidade de Valinhos. O Cartonifício Valinhos, uma das primeiras recicladoras de papel do Brasil, continua sendo uma empresa importante no mercado de papel, chapas de papelão e caixas. Com aproximadamente 240 funcionários, entre contratados e terceirizados, e uma trajetória de 88 anos, a fábrica já teve mais de 2.000 colaboradores que seguiram seus passos.

Dino Celani fez essa homenagem à cidade de Valinhos pela passagem de seu aniversário em 26 de maio
Dino Celani fez essa homenagem à cidade de Valinhos pela passagem de seu aniversário em 26 de maio

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