Por Bruno Marques
Sob a levada de um baixo bem grave de som aveludado, Caetano Veloso e Gilberto Gil mandam um praticamente rap na cara da sociedade racista. Tema este totalmente necessário na semana em que se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra e presente nesta seção musical com Haiti.
Produzido pelo requisitado produtor Liminha, o álbum Tropicália 2, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, foi lançado em agosto de 1993 para celebrar os 25 anos da Tropicália. Das 12 faixas que compõem o trabalho, a primeira é Haiti, que convida o ouvinte a uma profunda reflexão social.
A música, densa e com o dedo na ferida, diz respeito a questões vigentes no início da década de 90 – e atualmente – como desigualdade social, pobreza, racismo e violência estrutural.
Os compositores, Caetano e Gil, fazem um interessante paralelo entre as mazelas sociais em comum do Brasil e do Haiti.
“Como é que pretos, pobres e mulatos e quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados”
Trechos destacados desta célebre letra de Caetano e Gil:
“Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados”
“E se esse mesmo deputado defender a adoção
Da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo
Do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres”
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