News

Projeto ProSeguir acolhe mães em processo de luto em Campinas e região

Muitas mães não tem onde expressar sua dor, por isso o grupo promove troca de experiências valiosas

Por Gabriel Previtale

Monica Serpentini, psicóloga e tanatóloga, é a coordenadora por trás do projeto ProSeguir (@proseguir.maesenlutadas), uma iniciativa de apoio às mães enlutadas em Campinas e região. A inspiração para criar o projeto ProSeguir partiu do atual vice presidente da ONG Fraternidade sem Fronteiras (onde Monica é voluntária), Ranieri Dias, que notou o sofrimento de um grande número de mães enlutadas em vários projetos que a FSF abraça. Ao sugerir a um pequeno grupo de voluntárias algum movimento no sentido de acolhimento para essas mães a ideia foi prontamente aceita. Foi lendo sobre o luto que a fundado percebeu quão delicado e específico é o tema e portanto realizou a pós em tanatologia. 

Todos os processos de luto são delicados e possíveis de se complicarem, mas o da mãe junto com a morte de seu filho, da perda da sua presença física, é onde se perde também todos os sonhos projetados desde a sua concepção. “O processo de luto para uma mãe é incomparável”, compartilha Monica. “É como se um pedaço seu, uma parte do seu corpo, tivesse sido arrancado. No entanto, em nossa cultura, a morte é um assunto pouco falado, o que torna o enfrentamento do luto ainda mais desafiador. As mães enfrentam cobranças para ‘superar’ rapidamente sua dor, o que muitas vezes as impede de se expressarem livremente em seus próprios lares.”

Muitas não encontram, dentro de suas próprias casas, espaço para se exporem, pois seus familiares e muitas vezes o marido não permitem. Cada pessoa lida de uma maneira e muitos não se sentem capazes de ouvir a dor do outro e com isso o sofrimento é “abafado” podendo complicar seu processo de luto.  “Através dos nossos encontros as mães são acolhidas com carinho dentro de um ambiente seguro e sem julgamentos onde se sentem a vontade para se exporem. O grupo sendo coeso, ou seja, somente de mães, incentiva as trocas de experiências, sofrimentos, dores e culpas irem se espelhando, se identificando umas com as outras e fortalecendo dentro do processo. Não se sentem sozinhas em suas dores e começam a se abrir aos seus sentimentos e emoções”, explica a psicóloga.

Foi com esse entendimento profundo que Monica, juntamente com um pequeno grupo de voluntárias, dedicou um ano inteiro para estudar e estruturar o grupo ProSeguir. Com o apoio da Fraternidade sem Fronteiras, o projeto começou a oferecer encontros quinzenais gratuitos em Campinas, além de expandir para Holambra e Americana.

No ProSeguir, as mães encontram um espaço seguro e sem julgamentos para compartilhar suas dores e emoções. “Nossos encontros são coesos, exclusivamente para mães, o que permite que elas se identifiquem umas com as outras e fortaleçam-se mutuamente no processo de luto”, explica Monica.

O foco do ProSeguir não é terapêutico, mas sim proporcionar um ambiente propício para a troca de experiências. “Falamos sobre ressignificação, sobre encontrar novos significados após a perda de um filho”, diz Monica. “Queremos mostrar às mães que é possível prosseguir com a vida de maneira leve, apesar da dor.”

Além de oferecer apoio às mães, o ProSeguir também reconhece a importância de incluir o núcleo familiar no processo de luto. “Aos poucos, ampliamos o olhar das mães para as diferenças no processo de cada membro da família, trabalhando indiretamente o luto do homem, seja marido ou pai do filho e dos irmãos”, destaca Monica.

O projeto ProSeguir continua a expandir seu alcance, abraçando cada vez mais mães de diferentes origens e contextos. Desde seu início em 2019, o projeto já impactou positivamente a vida de inúmeras famílias, proporcionando um espaço de acolhimento e compreensão em meio ao luto.

Apesar do ProSeguir ser um grupo de acolhimento para as mães, todo o núcleo familiar acaba sendo envolvido. “Através de pontuações focadas e nos momentos de maior fortalecimento, ampliamos o olhar delas para as diferenças do processo de cada um dentro de seu núcleo, trabalhando assim de forma indireta um pouco do luto do homem, seja marido e/ou pai do filho e dos irmãos. Aos poucos todo núcleo recebe apoio através delas. Ultimamente nós, coordenadoras, andamos conversando bastante sobre estes pais, mas atualmente não temos estrutura para montar grupos específicos para eles”, diz a coordenadora.

Embora muitas mães relutem em procurar ajuda logo após a perda, Monica e as outras coordenadoras esperam que o ProSeguir (@proseguir.maesenlutadas) possa continuar a expandir seu alcance e ajudar cada vez mais famílias a enfrentar o luto de maneira saudável e solidária. “A morte faz parte da vida, e é fundamental falar sobre isso para estarmos mais preparados para ajudar o próximo”, conclui ela.

Leia anterior

Alunos da rede municipal participam de plantio de mudas no Dia Mundial da Água

Leia a seguir

Atividades de Zeladoria em Valinhos nesta Quinta-feira, 22 de Março