Projeto de preservação das cavernas na Serra dos Cocais, encontro de moeda de mais de 300 anos e possíveis cemitérios de ancestrais estão em pauta
Por Bruno Marques
A fim de pontuar sobre as recém movimentações e descobertas da APHV – Associação de Preservação Histórica de Valinhos, seu diretor social, Bryan Rodrigues Gouveia concedeu uma entrevista ao JTV. Estudante de Administração Pública e atuante na Associação Grupo de Geociências de Espeleologia do IGC-USP, ele explicou a importância das últimas divulgações.
Como está a tramitação do Projeto de Lei a respeito da preservação das cavernas descobertas na Serra dos Cocais?
O Projeto de Lei nº 20/2024, que declara as cavernas graníticas localizadas em áreas da Serra dos Cocais como valor histórico, cultural, natural, arquitetônico, estético, pedagógico e turístico, foi protocolado no dia 4 de março.
Foi um longo caminho até a finalização do texto do Projeto de Lei e seu efetivo protocolo. Iniciativas, que vale destacar, partiram dos vereadores Veiga e Henrique Conti, ambas pessoas de espírito público e republicano. No dia 5 o Projeto de Lei foi lido em plenário e encaminhado para as comissões para emissão de parecer.
No último dia 15, o projeto foi encaminhado pela presidência da CJR 2023/2024 à procuradoria para emissão de parecer. No decorrer da tramitação, quase todos os vereadores estão me procurando para saber sobre o projeto de lei e declarar apoio à causa, o que me deixa muito otimista e energizado para dialogar com os vereadores que ainda estão em dúvida sobre apoiar ou não essa causa, a qual não pode ser negligenciada devido às eleições de 2024.
A expectativa é que até meados do próximo mês o projeto seja votado.
Após a aprovação do PL, que na minha projeção será por unanimidade, o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural – CONDEPAV deverá trabalhar em parceria com a Associação Grupo de Geociências de Espeleologia do IGC-USP e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente para efetiva implementação das medidas previstas na lei. Pontes também poderão ser construídas com a Associação de Guias e Monitores Amigos do Vali para a articulação do turismo na região.
Por fim, é importante destacar que todas as autoridades políticas que se engajarem na defesa da iniciativa de preservação das cavernas da Serra dos Cocais deixarão seu legado na história da cidade, juntamente com os indivíduos que, dentro das complexidades contextuais, contribuíram para assegurar a proteção desses tesouros para as próximas gerações de valinhenses.
Também na última semana foi divulgado o encontro de uma moeda que é, provavelmente, o objeto mais antigo encontrado em Valinhos. Conte, por favor, resumidamente, sobre esse encontro e o que esse fato pode trazer de reflexão sócio-econômica para a cidade?
A descoberta da moeda, possivelmente o objeto mais antigo já encontrado na cidade, destaca a riqueza histórica da região da Serra dos Cocais. Além de abrigar inúmeras cavernas de granito, esta área é um tesouro de patrimônios históricos que podem fornecer informações valiosas sobre a evolução do município e orientar soluções para desafios contemporâneos de dimensões sociais e econômicas.
Datada de 1722 e encontrada na Fazenda São João das Pedras, a moeda de cobre será agora parte do acervo da Associação de Preservação Histórica de Valinhos. Após discussões com o IPHAN, está prevista sua posterior transferência para o museu municipal. Essa iniciativa visa valorizar e preservar o rico legado cultural da região.
Além disso, foi divulgado também a existência de dois possíveis cemitérios de indígenas e escravizados. Qual foi o processo de pesquisa até chegar à divulgação e qual importância histórica isso pode trazer para a realidade política atual da cidade?
As investigações dos cemitérios foram conduzidas em momentos distintos. Em 2021, o cemitério de escravizados da Fazenda Espírito Santo foi identificado, enquanto em 2023, foi a vez do cemitério indígena da Fazenda Santo Antônio da Figueira, localizado no bairro Parque Valinhos, ser descoberto. Todos esses achados surgiram no contexto do projeto “Café em Valinhos”, em andamento pela Associação de Preservação Histórica de Valinhos, sob a liderança conjunta minha e de Ulisses do Porto Salvador, pesquisador e associado da APHV. Ambas as pesquisas tiveram início com a investigação de algumas lendas rurais.
A identificação dos cemitérios reportados ao IPHAN marca um ponto crucial na história do município, potencialmente marcando os primeiros sítios arqueológicos estabelecidos em Valinhos. Estas descobertas têm o poder de alterar significativamente a narrativa histórica tradicional do município, tanto em relação aos indivíduos envolvidos quanto ao seu eixo geográfico.
Quais os próximos passos de buscas históricas da APHV?
A APHV tem como objetivo concluir o projeto “Café em Valinhos” até o ano de 2025, com a intenção de descobrir diversos outros locais e objetos históricos perdidos pelo município. Durante esse processo, a associação mantém uma comunicação constante com as autoridades pertinentes, buscando realizar uma missão cultural para enriquecer o acervo histórico do museu municipal. Além disso, a APHV está aberta à colaboração de todos que desejem contribuir com o projeto e com a preservação do patrimônio histórico da cidade.
O que é a APHV?
A Associação de Preservação Histórica de Valinhos, instituição privada oficialmente constituída em 21 de janeiro de 2015 e declarada como utilidade pública pela Câmara Municipal de Valinhos em 2022, tem como principal objetivo contribuir para a preservação do patrimônio material e imaterial do município de Valinhos. Essa missão é cumprida por meio da promoção de atividades culturais, educacionais e de pesquisa. A associação realiza eventos, exposições, palestras e projetos de pesquisa, todos direcionados à população de Valinhos. Além disso, estabelece parcerias e conexões com conselhos e organizações governamentais de preservação do patrimônio histórico, tais como o CONDEPHAAT/SP (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), CONDEPAV (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural), IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), bem como com instituições de ensino, empresas e pessoas físicas.