Por Rafaela Duarte
Neste 23 de abril, data em que é celebrado Ogum, orixá associado à força, à tecnologia e à superação, comunidades de Candomblé e Umbanda reafirmam a importância da fé, da ancestralidade e do combate ao preconceito religioso. Em Valinhos, lideranças espirituais falam sobre a simbologia de Ogum e as celebrações dedicadas ao orixá guerreiro.
Ogum é cultuado como o orixá do ferro, das ferramentas, da agricultura e das batalhas. É também considerado aquele que abre os caminhos e protege seus filhos. No sincretismo religioso, é associado a São Jorge — o santo guerreiro da tradição católica.


“Para os religiosos de matriz africana, Ogum representa o tecnólogo, o construtor, o general de muitas batalhas! Ogum também é dono dos caminhos, o abridor dos caminhos! O orixá que nos protege nas estradas!”, explica a Yalorixá Cláudia Rosa de Oyá, do Ilê Asé Ojú Oyá. A casa, fundada em 2021, está localizada nas Chácaras Alpinas, e reúne membros mensalmente para rituais e celebrações. “Recebemos a Terra onde estamos construindo nossa sede, doada por uma família que nos acolheu com respeito”, conta Yá Cláudia, que foi iniciada no Candomblé aos 4 anos de idade.
A celebração em honra a Ogum aconteceu no último dia 21 de abril no Ilê Asé Ojú Oyá, com distribuição de inhame, símbolo da fartura. “Ogum cuida da porta, para que nenhum mal adentre!”, completa a sacerdotisa.
Na Umbanda, Ogum também ocupa um papel central. Eduardo Yamaguchi, 47 anos, dirigente do Terreiro Tufa, fala sobre a importância da fé no orixá:
“A mensagem de Ogum é: só é derrotado quem desiste. Quem tem fé em Ogum não conhece derrota, e nem fica sem caminhos.”


Eduardo conheceu a religião em 2005, influenciado pela ex-esposa, e desde então se dedica à espiritualidade. “O que me levou à Umbanda foi a alegria de como é celebrada a espiritualidade em um ambiente acolhedor. Nossa casa é formada por 12 membros que acreditam na união como base da evolução espiritual.”
Este ano, o Terreiro Tufa realizará a Terceira Feijoada de Ogum, um evento para comemorar os bons caminhos que Ogum proporciona, com distribuição de alimentos a quem quiser. “Ogum nos protege e orienta nos caminhos! O mundo espiritual existe e precisamos nos conectar com ele”, conclui.
Além das celebrações, ambas lideranças destacam a importância da luta contra o racismo religioso e o preconceito ainda enfrentado por praticantes das religiões afro-brasileiras.
“A religião de matriz africana resistiu por séculos, mesmo em momentos sombrios. E hoje ainda lutamos contra o preconceito! Nossa luta é por respeito e direitos”, afirma Yá Cláudia.
Neste 23 de abril, o clamor das ruas ecoa dos terreiros: Ogum Yê! Ogunhê!