Saudades da fogueira: memórias das Festas Juninas no Ginásio

Ao aproximar-se o dia 29 de junho que marca a última festa de junho, dedicada a São Pedro, o guardião das chaves do paraíso, bate-me a lembrança das Festas Juninas no ginásio, o então Ginásio Estadual de Valinhos, o GEV. Essas festas eram uma tradição aguardada com ansiedade por todos nós, alunos e professores. Um evento que transformava o pátio, situado na parte superior, onde praticávamos educação física, em um cenário de alegria e união, onde cada detalhe contribuía para a magia da celebração.
O pátio, com seu campo espaçoso, era o lugar perfeito para nossas festividades. A decoração começava dias antes, com bandeirinhas coloridas penduradas por todo o espaço, palha e balões de papel enfeitando as barracas. A fogueira, centro das atenções, era cuidadosamente preparada pelos pais e funcionários, prometendo aquecer a noite e iluminar nossos corações.
As barracas, construídas com madeira e enfeitadas com tecidos xadrez, abrigavam delícias típicas das Festas Juninas. Cada classe era responsável por uma barraca, e nós, os alunos trajando camisas xadrez e chapéus de palha, e as alunas vestidos de chita, nos revezávamos para servir os visitantes. Tínhamos canjica cremosa, pipoca crocante, pamonha, curau, bolo de fubá e, é claro, o indispensável quentão, que aquecia até as noites mais frias.


Nossa motivação ia além da diversão. Muitas vezes essas festas foram transferidas para outro local, como por exemplo para o espaço situado defronte ao então existente Cine Saturno, num terreno baldio gentilmente cedido pela família Spadaccia. O dinheiro arrecadado era fundamental para manter o ginásio estadual funcionando. Cada sorriso, cada brincadeira, cada venda de doce ou salgadinho representava um tijolo a mais na construção dos nossos sonhos educacionais. Era um esforço coletivo, onde todos contribuíam para o bem maior.
Vestir os trajes típicos era uma parte essencial da festa. Havia algo mágico em ver todos caracterizados, como se tivéssemos sido transportados para uma vila caipira. Os meninos com suas calças remendadas e bigodes desenhados com carvão, as meninas com suas tranças e vestidos rodados, com as faces pintadas de sardas, todos dançando quadrilha ao som do sanfoneiro. Havia até uma apresentação das Cavalhadas, que é uma celebração portuguesa tradicional que teve origem nos torneios medievais, representando a luta entre o exército de Carlos Magno, coroado Imperador do Ocidente em 800, pelo Papa Leão III, e os mouros, sendo festejo costumeiro no Nordeste, desde o século XVII.
Ao cair da noite, a fogueira era acesa, e ao seu redor, histórias eram contadas, causos eram relembrados, e canções eram entoadas. A luz das chamas refletia nos rostos sorridentes, e por alguns momentos, esquecíamos de todas as preocupações do mundo. Ali, ao lado daquela fogueira, formávamos memórias que durariam para sempre.
Hoje, ao olhar para trás, vejo como aquelas festas foram fundamentais na construção da nossa comunidade e na formação de nossos valores. A solidariedade, a união e a alegria compartilhada em cada Festa Junina no ginásio são lembranças que aquecem meu coração, assim como a fogueira aqueceu aquelas noites frias de junho

Leia anterior

Tratar, não combater

Leia a seguir

Cruzeiro supera Jurema e sagra-se campeão do Hipermaster