Wellington Strabello fala sobre a carreira de professor de Geografia nos dias de hoje

“A Geografia permite aos alunos a construção de um repertório muito vasto sobre o mundo”, ressalta o professor

Homenagem para o professor Wellington Strabello

O Dia do Professor de Geografia no Brasil é celebrado anualmente em 26 de junho. A data foi estabelecida por ter sido a data quando foi promulgada a Lei nº. 6664 de 26 de junho de 1979 que regulamentava a profissão. Com esta lei somente quem cursasse a Faculdade de Geografia poderia ser professor na área. O professor de Geografia é responsável por apresentar o mundo nos seus aspectos físicos e políticos aos alunos. Para comemorar este semanário entrevistou o professor de Geografia Wellington Strabello, de 36 anos, formado em licenciatura e bacharelado em Geografia, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). O professor atua no Colégio Fundamentum em Valinhos, e como concursado em escolas da Rede Municipal de Campinas.

Por que escolheu a carreira de professor de geografia?

Sempre tive alguma facilidade em transmitir conhecimentos que eu acumulava, desde quando eu era um estudante primário. Mas não necessariamente pensava em carreira docente. A docência em Geografia veio de uma necessidade de unir algumas possibilidades: atuar na área socioambiental (iniciei cedo minha militância nesse tema) e ensinar tudo o que fosse possível. Daí me surgiu a Geografia como caminho, unindo uma área de humanas, da qual sempre tive predileção, mas que, ao mesmo tempo, estudasse o ser humano/sociedade como o centro de transformação do mundo à sua volta.

Qual é a sua formação e há quanto tempo está trabalhando na área?

Sou licenciado e bacharel em Geografia, pela PUC-Campinas e atuo na área desde o meu segundo ano de graduação (2006). Iniciei como monitor, assumindo turmas na metade da graduação.

O que é mais gratificante em sua profissão?

Sem romantismo. Professor é um trabalhador, e como tal, é muito bom saber que o nosso trabalho traz impactos significativos para a sociedade, como em todas as demais profissões. Acontece que, na maioria das vezes, em nossa área de atuação os resultados não são percebidos de imediato. É um processo, lento e gradativo. Mas o importante é mensurar o impacto da educação no longo prazo e saber que o nosso trabalho ajuda a promover transformações positivas permanentes, seja no indivíduo ou na sociedade à qual ele pertence.

Muito se fala sobre o papel da escola na formação de cidadãos. Como a Geografia contribui para esse processo formativo?

A escola, como um todo, é um dos espaços mais significativos na formação do ser humano. A Geografia, em particular, trata de observar a atuação da sociedade na produção do espaço e tudo que é decorrente desse processo: os conflitos, os impactos, as relações entre os países e suas respectivas sociedades, a cultura, a economia, a política e os impactos das políticas públicas. É uma área bastante ampla e que permite aos alunos a construção de um repertório muito vasto sobre o mundo. É importante como todos os demais conhecimentos que produzimos.

Que papel a Geografia desempenha no conjunto das disciplinas escolares nos ensinos fundamental e médio?

Pelo seu caráter abrangente, pela amplitude de temas, abordagens e análises possíveis realizadas em uma simples aula de Geografia, esse ramo do saber permite aos estudantes, desde o ensino fundamental até o médio, alcançar uma leitura de mundo bastante precisa, antenada com os fatos e preocupada em buscar as explicações e resoluções para os problemas que afetam a dignidade humana, a sociedade, o meio ambiente, o sistema produtivo, entre outros. É um conjunto de conhecimentos que permanece depois da escola e confere significados para muitos processos e dinâmicas em que nos encontramos inseridos.

A disciplina pode ajudar o estudante a entender o espaço público como uma produção social, feito por todos e para todos?

Com certeza! Uma das grandes preocupações da Geografia é justamente diferenciar o público do privado e colocar todos esses espaços como resultado da ação humana, que produz e transforma a superfície da Terra, positiva ou negativamente, incluindo ou excluindo, gerando abundância ou pobreza. Nessa perspectiva, a Geografia sempre traz o espaço público como o espaço do cidadão por excelência. Espaço de disputas sociais, de perdas e ganhos. Espaço em que exercitamos a nossa participação política, no sentido de nos tornarmos protagonistas nos processos decisórios.

O que você faz para encantar seus alunos com sua disciplina?

À medida do possível, eu sempre busco alinhar os conteúdos trabalhados com as dinâmicas que acontecem em nosso cotidiano, nos espaços fora da escola. E o interesse nessa abordagem é justamente o de promover sentidos práticos naquilo que estamos dedicados a estudar em sala de aula. Fora isso, busco estabelecer conexões com os meus alunos, me aproximando deles, me importando com o seu desenvolvimento de forma global.

Quais seriam, atualmente, os principais desafios ao pleno exercício da profissão?

Como em qualquer profissão, temos alguns desafios que são específicos. Mas, certamente, o maior é a valorização do nosso trabalho. Quando digo valorização é algo além do financeiro. É a valorização do nosso trabalho pelo conjunto da sociedade, entendendo o seu papel e o quão transformador pode ser um professor em nossas vidas. E digo isso pensando em todos os meus professores que tanto fizeram por mim! Eles permanecem como referências fundamentais em minha vida.

Como avalia o ensino de Geografia hoje? O que é preciso mudar?

Temos que lidar com muitas construções em sala de aula, e o tempo nem sempre joga favoravelmente. O que posso dizer é que muitas habilidades e competências são construídas com base em conteúdos das ciências humanas – especificamente, da Geografia. Esse ramo do conhecimento é fundamental. Lamentavelmente, há um processo de desgaste da Educação como um todo. Talvez pelo ambiente tóxico que tem prosperado em nosso país nos últimos anos. Uma mudança possível seria permitir uma adaptação maior dos conteúdos às realidades vividas por nossos alunos. Já o fazemos no dia a dia com o que dispomos. Mas os currículos pedagógicos poderiam contemplar um pouco mais esse caminho.

Ser Professor é: trabalhar diuturnamente acreditando em mudanças propositivas para todos.

Em algum momento, pensou em desistir?

Acho que todos, em qualquer profissão e/ou ambiente de trabalho, já passaram por momentos de estresse e desalento. Somos seres humanos – e não máquinas. Temos fraquezas também, e muitas. Portanto, sim, já pensei em desistir. Porém, quando coloco tudo na balança, percebo que o meu trabalho tem bem mais aspectos positivos e que nos enchem de vontade de querer continuar, de buscar novos conhecimentos para superar os desafios que aparecem aqui e ali. E isso nos traz o sentido de esperança naquilo que fazemos e faz com que não desistamos. 

Qual episódio da sua carreira causou-lhe mais emoção e por quê?

Foram muitos episódios! Mas, um em particular me emocionou bastante. Quando ingressei em um dos colégios que atuei, fui muito rejeitado por uma turma inteira de 7° ano. Eles adoravam o professor anterior, e me culparam pela saída dele (que foi, diga-se de passagem, uma opção pessoal e a minha contratação veio depois, mas eles não conseguiam enxergar dessa maneira). O tempo foi passando e a nossa relação atingiu um patamar ao ponto deles se tornarem a minha melhor turma e eu ser o melhor professor para eles. O aluno que mais me rejeitava se formou em Geografia por minha causa (risos).

Que mensagem você daria para o aluno que está pensando em prestar vestibular e estudar Geografia?

Vá em frente e encare todos os desafios! Sinta os sabores e dissabores da profissão (estes são partes inerentes e servem para o nosso crescimento pessoal, profissional e intelectual). Todas as profissões e áreas de conhecimento tem disso: pontos positivos e negativos. E tudo é parte integrante do nosso desenvolvimento, em qualquer circunstância. Encerro dizendo que o mundo precisa de mais geógrafos e professores.

Leia anterior

Fonte Sônia em Valinhos abre reservas de quiosques para julho

Leia a seguir

Vinhedo terá novo sistema de estacionamento rotativo na região central