Ao longo do tempo, o Burnout pode desencadear outros problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão
Por Gabriel Previtale
Em uma entrevista esclarecedora, a Dra. Karina Barbi, Médica Psiquiatra e membro do Departamento de Psiquiatria da SMCC (Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas), docente da Faculdade de Medicina e coordenadora da Residência em Psiquiatria da PUC-Campinas, destacou os riscos e as nuances do Burnout, uma condição de saúde diretamente associada ao estresse crônico no ambiente de trabalho.
“O Burnout é reconhecido atualmente pela CID-11 como uma condição de saúde associada ao estresse crônico no trabalho, gerando um quadro de esgotamento emocional. A principal diferenciação de outras condições emocionais é justamente o fato de que a causa está estritamente relacionada ao trabalho”, explica a entrevistada.
Dra. Karina Barbi enfatiza que o Burnout pode ter raízes tanto em fatores individuais quanto organizacionais. Questões pessoais, como capacidade de enfrentar desafios, sensibilidade e histórico de problemas psiquiátricos, podem desempenhar um papel fundamental. Além disso, aspectos organizacionais, como demandas de trabalho, relacionamentos interpessoais e cultura da empresa, também desempenham um papel crítico na sua manifestação.
As pessoas mais suscetíveis ao Burnout são aquelas que se dedicam muito ao trabalho e à empresa, além de serem preocupadas em realizar suas atividades profissionais de forma bastante eficiente
Segundo a psiquiatra, o Burnout se manifesta predominantemente como um profundo esgotamento emocional, com foco no desempenho no trabalho. Os sintomas são agrupados em três dimensões distintas: exaustão emocional, insensibilidade em relação aos outros e uma sensação de inadequação nas habilidades profissionais.
“As pessoas mais suscetíveis ao Burnout são aquelas que se dedicam muito ao trabalho e à empresa, além de serem preocupadas em realizar suas atividades profissionais de forma bastante eficiente. Esse tipo de trabalhador sofre mais justamente pela intensa dedicação que se propõe ao trabalho, o que acarreta maior desgaste quando existe excesso de demanda, por exemplo. Além disso, muitas vezes, o trabalhador enxerga a empresa como uma “segunda família” e acaba tendo grandes decepções quando se sente desvalorizado ou não reconhecido no trabalho”, comenta a médica.
Ao longo do tempo, o Burnout pode desencadear outros problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Fisiologicamente, o estresse crônico está associado à liberação crônica de cortisol, o que pode ter implicações a longo prazo na glicemia e na saúde cardiovascular.
Os primeiros sinais de Burnout podem ser sutis, mas incluem uma diminuição no interesse, energia e satisfação no trabalho. Em casos graves, a pessoa pode não conseguir mais enfrentar o trabalho. A Dra. Karina Barbi enfatiza a importância da auto-observação como estratégia de prevenção, incentivando os indivíduos a identificarem e abordarem os sintomas e causas precocemente.
A médica destaca que buscar ajuda profissional ao primeiro sinal de sofrimento é crucial para evitar complicações. Muitas empresas atualmente oferecem serviços de psicologia internos ou parcerias com profissionais da área, proporcionando um primeiro passo importante. Em casos mais graves, como o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, a intervenção de um psiquiatra é necessária.
O autocuidado desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde física e mental. A prática de atividades físicas prazerosas, o envolvimento em interesses pessoais e a criação de tempo para a família e amigos são medidas que ajudam a equilibrar as pressões do dia a dia.
À medida que o Burnout continua a ser uma preocupação crescente nos ambientes de trabalho, as palavras da Dra. Karina Barbi servem como um guia importante para a identificação precoce, prevenção e gestão dessa condição, garantindo o bem-estar dos trabalhadores e promovendo ambientes laborais mais saudáveis.