O tomate foi a primeira cultura, depois os japoneses diversificaram a produção rural. A família Kusakariba passou a plantar goiaba em grande escala
O Dia da Imigração Japonesa ou Dia Nacional da Imigração Japonesa é comemorado em 18 de junho, data da chegada do Kasato-Maru, primeiro navio com imigrantes japoneses. Atualmente, o Brasil tem a maior população japonesa fora do Japão. São cerca de 1,5 milhão de pessoas, das quais, aproximadamente 1 milhão vivem no Estado de São Paulo.
Valinhos comemora em 2021, os 65 anos da chegada das primeiras famílias japonesas ao município. Foram eles que introduziram o cultivo da goiaba na cidade, estimulando ainda mais a vocação da fruticultura local.
Para comemorar o dia do Imigrante Japonês, o Jornal Terceira Visão de Valinhos, entrevistou Teruo Kusakariba, filho de Shigueru Kusakariba, que foi o imigrante japonês pioneiro em plantar goiaba em grande escala em Valinhos.
Teruo Kusakariba é um dos quatro filhos do falecido Shigueru e de Kazue Kusakariba, e está à frente do Sítio Kussakariba há 23 anos, e ainda conta com a ajuda de sua mãe, que está com 89 anos. Sua irmã mais velha é moradora de Valinhos, a outra de Campinas e seu irmão mora no Japão. Hoje o filho de Shigueru é Presidente da Associação NIPO, situada no bairro Macuco, possuí dos filhos: Daniela Y. Kusakariba e Eduardo S. Kusakariba. A Associação Cultural Nipo Brasileira do Bairro Macuco, fica na Rua Waldemar Lazaretti s/n.
Em entrevista, Teruo fala da sua família, do pioneirismo na plantação de goiaba e do agroturismo, além dos desafios à frente a Associação Nipo do Macuco em Valinhos.
A família Kusakariba é de qual localidade no Japão?
Meus avós e pais vieram da província de Wakayama.
Quando a família chegou no Brasil? E quais foram os precursores?
Meus avós chegaram ao Brasil em 1936 com sete filhos. Entre eles meu pai, Shigueru Kusakariba. Eles chegaram no Porto de Santos, e de lá foram para Adamantina no interior paulista, onde lá se instalaram numa fazenda de café. Sendo que naquele tempo tinham que trabalhar como empregados durante dois anos para ganhar a cidadania brasileira.
A família teve grande participação na criação da expogoiaba e do roteiro turístico. Como foi essa participação?
Sim. Tínhamos participação ativa na Festa do Figo e Expogoiaba. Meu pai colocava as frutas na exposição desde quando a festa era realizada na Washington Luiz. No Turismo Rural fomos os pioneiros nessa atividade. Quando fomos convidados a participar em 1998, de antemão já aceitei entrar nesse projeto. Enxerguei a oportunidade de fazer a venda direta de frutas e seus derivados aos turistas. Após 21 anos trabalhando arduamente com a família no turismo, a pandemia acabou com todo esse trabalho. Infelizmente encerramos as atividades turísticas, mas continuamos firme na agricultura.
Como a família chegou em Valinhos? Onde se instalaram? E quais os cultivos iniciais?
Após meus pais terem passado por várias dificuldades além da língua, lutaram bastante, chegaram a ter uma fazenda de 30 alqueires no interior paulista e mercearia. Venderam tudo e foram pra Curitiba montar outra mercearia. Tudo estava andando muito bem até que abriram um grande mercado perto e tudo se complicou. Diante da dificuldade, meu avô veio passear na casa de amigos em Campinas e viu a oportunidade de vir para Valinhos pelo depoimento de seus amigos. Em 1956, chegaram no Bairro Joapiranga, onde arranjaram uma terra e lá começou o plantio de tomate. Foi um sucesso. Grande produção e ótimo preço. Em dois anos, em 1958, já tinha comprado a propriedade onde vivemos até hoje. A propriedade tem 6,2 ha.
Como o Sítio Kussakariba iniciou o plantio de goiaba? E por quais mãos?
Em 1960, meu pai foi o pioneiro em plantar goiaba em grande escala. Ele plantou 500 pés de uma vez. Sendo que a vizinhança que se diz pioneira tinha 10,20 pés.
Conte um pouco a história da família junto a cidade de Valinhos.
Família pacata como qualquer descendente japonês, de muito trabalho e esforço. Meu pai visionário nos plantios, foi um dos verdadeiros pioneiros da goiaba e ele implantou a ciriguela na cidade, em 1971.
A criação da Associação Nipo no Macuco teve colaboração da família. Conte um pouco sobre.
Sim. Minha família sempre foi muito participativa na Associação Nipo. Na verdade, todos os moradores japoneses do Bairro ajudaram a alavancar a Associação. O principal motivo era a falta de atividade de lazer entre os familiares da descendência. Então era o único local onde se reunia as famílias para comemorações, festejos típicos e lazer (antigamente o beisebol era o principal esporte). Infelizmente, a pandemia nos cortou os encontros e atividades porque a maioria das pessoas serem da terceira idade. Mas pretendemos aos poucos voltar ao novo normal.
Hoje o sítio Kussakariba é administrado por descendentes da família. Quem são, e como estes mantém viva o cultivo e a tradição Japonesa?
Hoje o sítio é administrado por mim. Minha mãe vai fazer 89 anos, mas tem uma disposição incrível, faz embalamento de goiaba ainda, talvez seja esse o motivo da longevidade, ocupando a mente. Meus filhos trabalham fora, e essa é a grande preocupação da continuidade.
O sítio é uma propriedade rica em plantio de goiaba, ciriguela e demais frutos. Quais os maiores desafios enfrentados nesta pandemia?
Independente de pandemia, a agricultura já vem sofrendo a muito tempo. Seja pelos altos custos de produção e pouco valor recebido, falta de mão de obra, etc… Tivemos que encerrar a atividade turística depois de 21 anos. É difícil, mas temos que enxergar de outra maneira. Talvez aquela acomodação que vivíamos, a pandemia veio para modificar tudo e todos. Se reinventar foi a palavra que mais usamos aqui. Hoje plantamos outras coisas, como mini morangas, pitaya, abil, etc… Se algo não vai bem, precisamos encontrar novos caminhos pra vencer, e é isso que estamos fazendo.
A Associação Nipo do Macuco foi criada em que ano? Qual foi o objetivo da criação?
A Associação foi fundada em 6 de dezembro de 1959. Os principais objetivos são promover aos associados atividades recreativas, sociais e esportivas. Fomentar o congraçamento e a confraternização entre todos os associados. Promover reuniões, passeios, encontros, jantares, sessões sociais, recreativas e culturais, além de divulgar e preservar a cultura, língua e a tradição japonesa.
Teruo, hoje você é presidente da Associação Nipo. Quais os principais desafios enfrentados e como vocês estão mantendo viva a tradição japonesa em Valinhos?
Como já disse, um gigante problema foi a pandemia. Muitos já idosos, não podemos abusar da saúde de ninguém, então as atividades estão praticamente suspensas. Tínhamos o tradicional Noite do Yakisoba que acontecia duas vezes ao ano e que era uma verdadeira confraternização entre famílias, amigos, agricultores, empresas ligadas ao setor, etc… Tudo parado há dois anos, além da festa em si, era o que dava fôlego à associação. Mas espero aos poucos dar retorno a tudo isso.
Deixe uma mensagem para a população Valinhense e aos seus conterrâneos.
Os desafios estão aí para serem enfrentados, com fé em Deus hei de vencermos.