Médico especialista em psiquiatria traz ponderações sobre uso de remédios e alerta para riscos da automedicação
Por Bruno Marques
Luciano Rateke é médico com especialização em psiquiatria e atende em Valinhos desde 2021. Atualmente, também é membro-sócio da sociedade de psicanálise APOa (Apertura para Otro Lacan). Ele falou a esta reportagem sobre a importância da consulta adequada com profissional preparado e os riscos da automedicação.
Apesar das necessidades de exames específicos e consultas com profissionais da área, a automedicação inclusive de medicações psiquiátricas é comum. Por que isso acontece e quais os riscos desta prática?
Todos os medicamentos psiquiátricos necessitam receita médica, portanto o intermédio de algum profissional sempre existe, isso pode ser do profissional da farmácia que vende a medicação sem a receita ou de outro médico. Muito da automedicação existe ainda por estigma em consultar com psiquiatra, a velha ideia de que “psiquiatra é para louco”, e essa prática sim vem com muitos riscos: efeitos adversos graves, interações medicamentosas indesejadas, e em alguns casos dependência e tolerância medicamentosa.
Geralmente a receita para esses casos é devida à baixa ou desregulação de algumas substâncias e ou hormônios? Se sim, quais?
A prescrição de medicação segue uma lógica conforme o conjunto de sinais e sintomas do paciente. É campo de estudo da psiquiatria a psicopatologia dos transtornos psiquiátricos, e o uso das medicações em algum grau segue a lógica das psicopatologias, mas não é algo que é possível ser resumido em termos de alterações de níveis de substâncias.
Um dos fármacos que tem sido utilizado em automedicações é o Zolpidem. Você tem conhecimento desses fatos? Se sim, quais os riscos desta prática?
O Zolpidem, embora eficaz para tratar insônia de curto prazo, traz riscos significativos se usado de maneira inadequada. Um dos principais é a dependência, que ocorre quando o corpo se acostuma com a presença constante do medicamento, levando à necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito, o que também aumenta o risco de tolerância. Além disso, a interrupção abrupta após uso prolongado pode resultar em sintomas de abstinência, como insônia rebote, ansiedade, e até convulsões em casos severos.
Outros riscos incluem efeitos colaterais graves, como amnésia, comportamento estranho e desinibido, e atividades realizadas em estado de semiconsciência, como dirigir ou comer sem plena consciência, aumentando o risco de acidentes. Também há o risco de interações medicamentosas perigosas, especialmente quando combinado com álcool ou outros depressores do sistema nervoso central, o que pode intensificar os efeitos sedativos e levar a uma depressão respiratória potencialmente fatal.
Tem sido frequente e crescente as queixas e diagnósticos de insônia e ou problemas com o sono? Quais os problemas de saúde mental que mais têm surgido em seus atendimentos?
Insônia é a queixa mais comum no consultório. Outras comuns são: depressão, ansiedade, TDAH, compulsão alimentar, entre outros.