Advogada Alaíne Navarro frisou as posições de empoderamento feminino no Dia Internacional da Igualdade da Mulher
Por Bruno Marques
O último dia 26 de agosto foi celebrado o Dia Internacional da Igualdade da Mulher. E, para falar sobre este tema, a entrevistada foi Alaíne Navarro, advogada criminalista, mestranda em Filosofia, e presidente da Comissão da Mulher Advogada, na OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, de Valinhos.
Veja alguns pontos principais da entrevista que pode ser vista no canal do Jornal Terceira Visão, no Youtube.
Opção por advocacia
“Foi para ver as coisas acontecendo. Acho que as pessoas que amam Direito entram na faculdade pensando que serão as justiceiras. Aí vêm os professores e falam: Calma não é bem assim”.
Lei Maria da Penha
“A Lei Maria da Penha saiu em 2006, e minha monografia a respeito do assunto foi feita em 2010. Ou seja, meu trabalho veio logo depois. A Lei Maria da Penha recebeu o prêmio da ONU de melhor lei contra violência doméstica do mundo. Mas ela está acontecendo? O que garante que o cara não vai chegar perto da mulher? Ainda luto e espero para que as coisas melhorem muito”.
Violência doméstica
“Sofri violência doméstica dentro do meu lar. Sei como é. Vejo casos em que a mulher chega na delegacia e ela é desacreditada. A violência doméstica existe também no ambiente de trabalho e em relacionamentos abusivos. Na Comissão da Mulher Advogada a gente sempre emite notas de repúdio”.
Guardiã Maria da Penha
“A iniciativa da Guardiã Maria da Penha é sensacional. Também fiz aulas de defesa pessoal que a Guarda Municipal vem fazendo. Acompanhei algumas aulas e o que eu achei mais lindo deste projeto foi sobre os golpes iniciais de como a mulher se defende e pede socorro. O mais maravilhoso foi ver o empoderamento dessas mulheres”.
Uso da Psicanálise
“A minha base de estudos é Freud e Lacan. Minha tese de mestrado reforça a importância de se utilizar a Psicanálise para entender e chegar à origem
das violências. Lacan diz que existem os comportamentos repetitivos. A pessoa que sofreu violência doméstica vai ter esse padrão pela referência. Ela tende a ter relacionamentos abusivos, e vai procurar ter namorados abusivos. O ciclo continua e daí a importância de se estudar a Psicanálise para se entender e não repetir padrões”.
Patriarcado
“Vejo um sistema do estado ainda muito patriarcal, muito machista e misógino. Pelas iniciativas governamentais, não vejo muito muita melhora. Então, vemos em cidades pequenas projetos, trabalhinhos de formiguinha, visando ensinar, estimular a mulher a fazer cursos, inseri-la no mercado de trabalho, objetivando uma independência financeira. Enfim, implementar políticas públicas de incentivo ao trabalho da mulher porque se ela trabalha, estuda, na hora que quiser sai de casa, ela tem seu dinheiro. Se o homem a agrediu, ela vai embora”.
Feminicídio
“A questão de tirar porte de arma é igual para homens para as mulheres. Mas eu gostaria que fosse mais fácil para as mulheres, que tivessem acesso facilitado a armas, pois nós somos mais frágeis fisicamente. Em 2015 foi feita a lei do feminicídio, e o assassinato de uma mulher passou a ser incluído no rol de crimes hediondos. Ou seja, a pena é maior e não existe fiança”.
Casos de violência em Valinhos
“Aqui em Valinhos são bem altos os casos de violência. E olha que os que temos são apenas os que chegam à Justiça. Pense em quantos casos são ignorados. Não sei te dizer agora exatamente quantos, mas é um número altíssimo que me deixou chocada.
Quando te colocarem em um pedestal, fuja! Pedestal não é lugar para mulher. Ele vai te endeusar, só que vai te colocar numa gaiola. Então, foge, não fica no pedestal”.
Mudanças
“Muitos homens não enxergam a dificuldade que é ser mulher em uma sociedade como a nossa. Mas que as mudanças continuem progredindo e não retrocedendo, pois já foi muito difícil conquistar o que conseguimos nos últimos anos”.