Delegacia de Defesa da Mulher registra, diariamente, casos que colocam vidas de vítimas em risco
Por Bruno Marques
Neste exato momento, mulheres estão sendo vítimas de algum tipo de violência em Valinhos. Algumas delas, todos os dias, procuram a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para buscar ajuda. Que nem sempre acontece pois, em muitos casos, os açoites físicos e psicológicos continuam.
Só na última semana, ao menos mulheres foram violentadas por homens e registraram queixa na delegacia. Todos os boletins de ocorrência são de violência doméstica e em alguns deles também constam ameaça, injúria, lesão corporal e até roubo.
Agravantes de posse de arma e abuso de álcool
No último dia 14, uma mulher de 50 anos, casada há 24, relatou que seu marido sempre foi agressivo e que sofre agressões físicas e psicológicas por conta do sentimento de posse do autor sobre ela e seus filhos. A vítima afirmou que já tentou se separar, mas diz que o autor ameaça matar ela, os filhos – de 18 e 7 anos -, e depois se matar.
Três dias depois, uma mulher de 48 anos, casada há 30, registrou que sofre violência física e psicológica. Ela reclama que o marido é agressivo e que a obriga a fazer sexo na hora que ele quer. Num ponto extremo, a vítima contou que seu marido já chegou a encostar uma arma em sua cabeça, dizendo que iria matá-la.
A mulher disse que já tentou várias vezes se separar, mas que é ameaçada de morte. Por fim, ela acrescentou que o marido vem bebendo uma garrafa de pinga por dia e, assim, tem ficado ainda mais agressivo.
Briga que quase acaba em incêndio
No mesmo dia, por volta das 20h, uma diarista de 43 anos relatou que, após ser xingada pelo marido, este pegou duas latas de solvente, jogou na casa, e só não deu sequência à ação incendiária porque seu filho conseguiu tirar o isqueiro de sua mão. Aproveitando o momento, a vítima foi até um quarto, se trancou e chamou a polícia
Na noite do dia seguinte, uma mulher de 32 anos registrou BO de violência doméstica, ameaça, injúria, lesão corporal e roubo após seu ex-companheiro, pai do seu filho, de 2 anos, entrar em vias de fato com seu atual namorado, ameaçar sua mãe, tentar levar a criança embora e roubar seu celular.
Profissional de saúde mental faz alertas
Psicóloga há 17 anos, Ana Paula Pailo foi consultada pelo Jornal Terceira Visão para analisar os casos de violência contra a mulher. Ela disse que a maioria deles acontece devido a situações de desentendimentos na relação conjugal, onde o homem diz perder o controle e a razão, e a mulher, por sua vez, acredita que a agressão acontece apenas pela alteração do estado emocional do companheiro.
“Já recebi relatos de mulheres em que os companheiros simplesmente não aceitam a forma como elas se vestem ou se comportam, restringem amizade com outros homens e também há os que não querem que as parceiras trabalhem fora de casa. Outros reclamam da comida e da limpeza do lar. Realmente são inúmeros fatores, mas nenhum deles justifica uma agressão. O que preocupa é algumas mulheres considerarem normal, ou conviverem com a ideia de que “merecem” este tipo de tratamento”, declarou Ana Paula.
Ela citou que há queixas bastante repetidas dos relatos como agressões verbais, empurrões, apertões no braço, socos no rosto, e até estrangulamento. “Nos relatos é nítido o medo, pois as mulheres sofrem ameaças caso venham denunciar. Assim, perdoam seus parceiros por amor, pena ou comodismo. Por isso, muitas prestam a queixa, e depois a retiram, permitindo que as agressões permaneçam”, alertou a psicóloga.
Ana Paula afirmou que os perfis que aparecem em seu consultório são de mulheres com baixa autoestima, inseguras, e até com sintomas de depressão. “E para combatermos este crime, o melhor caminho, primordialmente, ainda é a denúncia. Existe a Lei número 11.340, chamada Lei Maria da Penha, que se dedica ao combate da violência contra às mulheres. Se você passa por situações de violência, procure ajuda de um profissional da área. Convide-se a se conhecer, se respeitar, se permitir, se impor limites”, orientou.
“Em tempo, se você, homem, reconhece em si mesmo falhas como estas em seu comportamento e quer se tornar uma pessoa melhor, sugiro também a busca por um profissional capacitado, para que descubra os gatilhos desta necessidade comportamental agressiva, que muitas vezes pode ser reflexo da infância e/ou de seu ambiente familiar”, concluiu a psicóloga que deixou seu contato para consultas: 19 9 99632865 e @psicopailo.