“O Carnaval que eu participo tem como origem o povo que sempre foi discriminado nesse país”, afirma folião de Valinhos

Adriano Tonon é carnavalesco “das antigas” e falou sobre seus desfiles, além de ver com bons olhos o Carnaval deste ano em Valinhos

Por Bruno Marques

Carnavalesco desde quando nem sabia andar, Adriano Tonon desfilou, no último fim de semana, pela agremiação Unidos do Peruche, em pleno sambódromo do Anhembi. Numa entrevista descontraída, ele contou a esta reportagem sobre este desfile e muitos outros.

“Do mesmo jeito que a Administração Municipal precisa ter controle do básico, os foliões também precisam saber se comportar”, ponderou

Tonon, conte um pouco sobre suas experiências “de outros carnavais”.

Meu pai era ritmista. Desfilei ao lado dele com um ano e pouco. Isso foi no Carnaval de 1977. Nas baterias de Valinhos eu já toquei repinique, surdo de 1º, tamborim e chocalho.

Em São Paulo, desfilei pela primeira vez em 2013 pela Império de Casa Verde. De 2017 pra cá, sempre desfilei no Peruche (já fui integrante de ala, coordenador de ela, apoio, amigos da bateria, convidado do presidente e quando possível ensaio com a bateria Rolo Compressor).

Também desfilei na Mancha Verde, na X-9 paulistana, e ano passado desfilei na Império de Casa Verde.

Foram mais representantes valinhenses?

Sim, sempre tem bastante valinhense desfilando. Na minha ala (que fechou o desfile) tinha a minha mãe Leninha. Minha irmã Amanda estava como Disciplina. A Graciana e a Fabiana desfilaram na Ala dos amigos. O Cleverson Benini estava como apoio da Rainha de Bateria, que é de Campinas.

Na arquibancada tinha muito valinhense. O desfile do acesso 2 cresceu demais, cerca de 35 mil pessoas assistiram ao desfile. O Anhembi virou uma concessão e o Concessionário tem feito bastante adaptação em infraestrutura e comercialização de alimentos.

A entrada aos desfiles do acesso 2 tem os portões abertos já faz 3 ou 4 anos, excelente para o crescimento desse grupo.

E em Valinhos, qual sua visão sobre este Carnaval?

O secretário Fabricio e sua equipe conseguiram montar uma programação em um tempo muito curto. Conversando com os comerciantes, o ensaio que o Bloco Azul e Branco fez no CLT trouxe um retorno de vendas muito bom. E percebemos movimentos de compras de adereços e procura por fantasias, o que sempre é ótimo porque ajuda o comércio local.

Sobre os foliões, só o fato de ter ensaios dos blocos Azul e Branco, Saudosa Maloca, Unidos da Madrugada, já deixa uma sensação de agenda cheia. Ótimo para rever os amigos e dar uma desestressada. Normalmente não são músicos, são pessoas que em sua maioria não estudaram música ou algo similar e quando o resultado começa a acontecer, todos ficam muito contentes.

Qual diferença, elemento autêntico e expressão cultural que você atribui ao Carnaval/samba que mais nenhum outro estilo musical possui igual?

O Carnaval que eu participo, o desfile de escolas de samba, tem como origem o povo que sempre foi discriminado nesse país. Estamos falando dos povos originários, da população preta e pobre, basicamente do batuque que é conectado com as religiões de Matriz Africana, a Umbanda e o Candomblé (mais ligado ao nordeste, e a umbanda mais ligada ao Rio de Janeiro).

No meu entendimento, os desfiles atuais servem para desmentir muita informação incorreta sobre isso tudo, resgatando a cultura desse povo e mostrando o que realmente significa. É sempre importante bater nessa tecla de valorizar o que temos aqui dentro, o que nossos ancestrais fizeram, quais foram as lutas e batalhadas (vencidas e perdidas) por esse povo, para poder chegar no que somos hoje.

Não consigo ver isso em outro estilo musical. E isso não desvaloriza os outros estilos. É só a diferença cultural entre o Samba e os demais. Todos os ritmos são importantes. Aliás, os blocos de Carnaval são diversos, com Rock, Sertanejo, Piseiro, Axé, Forró, etc. Sem contar os ritmos mais regionalizados como os tambores catarinenses, o Maracatu, o boi Bumbá, etc.

Vale a pena lembrar que o Carnaval não é e nem deve ser tratado como um momento de Vale Tudo! Já tem muita gente fazendo campanha contrária, vale lembrar que é normal ter Prefeituras dizendo que vão utilizar o dinheiro do Carnaval aqui e acolá. Tudo desculpa. Você pega o orçamento de Valinhos esse ano, passou de R$ 1 bilhão. Qual será o custo do Carnaval de Valinhos esse ano? Se for de 100 mil reais (Não creio que seja), estamos falando 0,1% do orçamento? Isso resolve alguma coisa na cidade? Não resolve.

Pra mim, é simplesmente ideologia de quem governa, que utiliza do recurso de persuadir a população para falar com o seu eleitorado, nada mais que isso. No domingo, conversando com o Franklin, ele veio me dizer que sempre foi apoiador da festa e o que estiver dentro do possível, eles tentarão fazer, lembrando que do mesmo jeito que a Administração Municipal precisa ter controle de gastos e controle do básico, os foliões também precisam saber se comportar, não ficar procurando confusão, entender que o ambiente é familiar e não de baderna, fazer suas necessidades nos locais correto, jogar a sujeira no local correto de descarte, respeitar ao próximo e lembrar que não é não! Isso é o mínimo que precisamos fazer.

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