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Ritos de passagem

Quando eu estava no Ensino Fundamental II, estudava em uma instituição bastante conservadora, à qual sou muito grata pela minha formação, apesar de guardar muitas ressalvas. Junto destas, guardo também memórias 16 anos após a formatura. Lembro-me de que, no primeiro dia de aula, podíamos ir sem uniforme. Em fevereiro, confeccionávamos cartões de Valentine’s Day durante as aulas de inglês e eu sempre escrevi a mesma coisa para todo mundo: “You’ve got a friend in me”. Traduzida para português, a frase significava um atestado de amizade e eu já cheguei a escrever 30 cartões diferentes para dizer essa simples frase a pessoas que hoje nem lembro o nome.

Por esses cartões, briguei com minha mãe para ter canetas coloridas novas, assim como dei-lhe uma resposta atravessada a um comentário seu sobre as horas em que passei escolhendo o “look” do primeiro dia de aula entre as quatro camisetas que eu tinha na época, afinal, minha família passava por dificuldade financeiras.

Anos de terapia somados à compreensão de que as relações entre pais e filhos adolescentes é marcada por farpas, hoje adiciono ainda uma nova camada a essas lembranças: a simbologia.

Coisas que são pequenas para nós, adultos com IPTU a vencer e sem esperanças de janeiro encerrar, são imensas para quem as vive pela primeira vez. E, muitas vezes, as primeiras vezes são na escola. Do simples atravessar um portão para o primeiro dia de aula ao primeiro bilhete de amor: há neste abismo um infinito de símbolos. Vemos o famoso “estirão” dos meninos, mas a criança que retorna com os lápis apontados para a nova sala não é a mesma que chegou ano passado com o estojo sujo trancando a mochila no armário.

Na aspereza da vida, esquecemos de ver a fineza desses gestos que simbolizam transformações todos os dias. Que possamos celebrar os primeiros dias de aula novamente com nossos pequenos e nos lembrar que a passagem do tempo acontece todo dia. O primeiro dia de aula não é só mais um, é um rito de passagem.

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