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Ansiedade: das cartas às redes sociais

Gostaria de tomar seu precioso tempo minha querida leitora, meu caro leitor, para que hoje possamos refletir sobre a relativização do tempo, focando especialmente na diferencia de percepção que a sociedade tinha há anos e que se tem dele hoje. Você tem tempo para refletir comigo? Ótimo, então iniciemos nossa reflexão.

A ascensão da internet para a massa da sociedade se deu por volta dos anos 90, recordo-me que quando criança; tínhamos que esperar para utilizar a internet após a meia noite, pois era mais barato o acesso atrelado ao valor da conta telefônica no final do mês, recordo-me ainda que havia  a lanhouse, local próprio para aqueles que não tinham condições financeiras o suficiente para ter um celular ou um computador com uma boa internet para acessar e tal acesso era cobrado por tempo…

Enfim, a partir do parágrafo anterior em que pretendi estabelecer uma base sólida nessa nossa reflexão, tomo aqui a liberdade de voltar antes da internet liberada a massa da sociedade, época em que se comunicava com os outros ou por telefone fixo, ou ainda se voltarmos um pouco mais no tempo, comunicava-se apenas por meio de correspondências, cartas. Naquela época você mandava uma carta para algum ente querido e tinha de esperar semanas, meses para receber um retorno. “Tempo, gestão do tempo, gestão das emoções, ansiedade…”, esses conceitos são chave para nossa reflexão. Hoje em dia não há mais tempo para nada, a demanda de atividades está exagerada, tendo que se exercer diversos papéis vislumbrando atingir o patamar dos famosos comerciais de margarida: a de uma família tradicional e feliz, custe o que custar.

No período histórico onde a única forma de comunicação era através de correspondências (posso estar equivocado), mas me parece que nunca ouvi de meus avós que havia tanta demanda de pessoas ansiosas, passando por psicólogos e psiquiatras, tomando antidepressivos, ansiolíticos, tarja pretas… Lá atrás enviava-se uma correspondência e a única opção plausível e sensata era esperar pacientemente um retorno, simples assim e ponto final, uma espera ativa, no sentido de que enquanto a carta de retorno não viesse, continuava-se a realizar as tarefas do cotidiano, ou seja: continuava-se a viver. Hoje existem pessoas que não conseguem se concentrar em mais nada, se mandam uma mensagem para outra em alguma rede social e tal pessoa receptora da mensagem não a responde em um minuto isso já dá margem para efeitos emocionais negativos, o quadro piora se tal pessoa receptora estiver online e não responder na hora (é como se fosse um dever, uma prioridade responder no momento exato que se recebe uma mensagem). Já presenciei relacionamentos amorosos terminam por conta desse detalhe: “- Você estava online e não me respondeu! Devia estar com outra pessoa me traindo…!”. Vivemos em outra era, em outra geração isso é fato! Temos tido sim grande avanço em diversas áreas, mas e na saúde mental?

Termino nossa reflexão pensando na relação ‘oferta x demanda’ focando no quesito saúde mental: são épocas onde as crianças já nascem sendo cobradas à todo o momento e aprendem a se auto-cobrarem, gerando estresse, ansiedade, crescem saturadas de compromissos e atividades cotidianas, tendo a todo momento que ser melhores que todos, que precisam ter sucesso na vida, no relacionamento, no amor… Uma pessoa acaba por buscar acompanhamento psicológico e psiquiátrico por não conseguir esperar o retorno de uma mensagem enviada por uma rede social sem ter crises de ansiedade, pois isso já tornou-se em sua vida um hábito, com isso a demanda por procura de profissionais do ramo aumenta drasticamente, as industrias farmacêuticas lucram, a ciência adora “rotular” pessoas com novas doenças, novas palavras, novos conceitos. A mudança é brusca, está se tornando cada dia mais líquida, como sugeriu o grande sociólogo Bauman, aonde iremos para eu não sei, mas confesso que não sou nenhum pouco otimista com o futuro emocional da sociedade global. Um grande abraço.

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