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João Bachega interpreta demônio em espetáculo da Paixão de Cristo

Um mergulho profundo no universo do teatro físico e psicológico é o que define a jornada de João Bachega, artista de Valinhos. Com sua recente performance como o demônio na última encenação da Paixão de Cristo, promovido pela Prefeitura por meio da Secretaria da Cultura, reuniu um público de 3,9 mil pessoas na última quinta (28) e sexta-feira (29), no Ginásio Municipal Vereador Pedro Ezequiel da Silva, Bachega revela os bastidores e os desafios de dar vida a um personagem tão denso e controverso.

Desde o início, Bachega se viu imerso em uma busca intensa pela voz e pelo corpo ideais para representar seu papel. Inspirado por técnicas de mestres como Grotowski e Jacques Lecoq, o ator mergulhou fundo na construção física e vocal do demônio, evitando estereótipos e buscando uma abordagem mais humana e complexa.

“Partindo de técnicas de Grotowski e Jacques Lecoq, nos quais são do teatro físico, consegui construir um corpo e por consequência a voz”, compartilha Bachega. “Na questão psicológica da personagem, fiz uma gênese baseada na fome, medo e confusão que Cristo sentia enquanto estava no deserto, onde cientificamente é comprovado que temos alucinações ao passarmos tanto tempo sem comer ou beber água. Daí surgiu esse demônio.”

Para Bachega, o desafio não estava apenas em representar o mal, mas em explorar suas nuances e complexidades. “A abordagem principal foi a fome, na qual enfraquece até o mais forte dos seres humanos, estar nesse estado abala qualquer um”, reflete o artista. “A encenação me trouxe um sentimento de prazer, poder e ao mesmo tempo um peso por estar dando vida a um ser tão denso e mal.”

No entanto, o processo de entrar e sair da personagem não foi fácil para Bachega. “Penso que os desafios são entrar e sair da personagem, pois é despendida uma carga de energia muito grande, trazer o nosso mal pra fora dói e dá medo”, confessa. “Acredito que todos temos nosso lado ‘demoníaco’, porém ele fica escondidinho lá dentro. Algumas pessoas conseguem tratar e aceitar esse lado de uma maneira mais leve, mas outras infelizmente não. Enquanto ator, eu entendo que isso é e pode ser uma ferramenta para personagens como esse.”

Apesar das dificuldades, o reconhecimento do público foi gratificante para Bachega. “Meu Deus, as pessoas gostaram muito, e até me preocupa um pouco as pessoas gostarem tanto do diabo”, brinca. “A cena foi marcante e muito bem feita, que, aliás, não fiz sozinho. Agradeço muito ao Luciano Corrêa pela confiança, ao Danilo Coelho pela parceria e ao corpo de Baile por entrar nessa loucura comigo, sem eles essa cena não seria tão forte, com certeza.”

Para Bachega, o papel do diabo na narrativa teatral é essencial para criar contrapontos e desafios para os protagonistas. “Penso que o papel do diabo é importante para fazer um contraponto, isso faz parte da jornada do herói, onde Jesus precisa passar pelas dificuldades até que alcance o fim de sua jornada que é a ressurreição. O diabo é só mais um dos percalços de sua trajetória.”

No final das contas, Bachega destaca não apenas o resultado artístico, mas a experiência humana e colaborativa que envolveu toda a produção. “Foi uma delícia, todos super dedicados e dispostos, só gratidão, mesmo. Também aprendi muito com a montagem da peça, as aulas e preparações durante os ensaios, conhecer pessoas e suas histórias para além da peça.”

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